Site Meter Projeto Modes - Encheu? Joga Fora!: 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

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...
Chegou na festa particular bem mais tarde. Saiu procurando as pessoas, passou e pegou uma cerveja no isopor que estava no canto da sala.
Antes de mais nada o avistou entrando pela porta lateral, o coração quase tocando a língua, mas virou o rosto. Sabia que não tinham mais o que conversar, ou tinham, mas não queria. Preferiu ignorar. Sentiu o peso dos olhos dele em suas costas. Foi pra longe, o máximo que conseguiu.

As próximas cervejas serviram de calmante para um corpo que estava a milhão. Incrível como cada membro sente quando algo incomoda, quando algo não te deixa saber onde levar os pés.

...quando nada pode ser feito. Ou pode, mas não se sabe como. Sem maiores tentativas.

Tentou transparecer tranquilidade. Esperava alcançar esse objetivo. O álcool já fazia o peito doer de vontade de chorar. A vontade era a de encontrar.

O desespero começou a bater quando o outro rosto já estava sumido por muito tempo. Olhava para cada pedaço, cada movimento. E desistiu. Embriagada demais, se despediu e pegou as chaves do carro na bolsa.

Lá estava ele encostado na porta.
E o céu tinha pontos estrelados.

- Esquece tudo e vamos embora?
- Eu vou embora. Você fica.

Pediu licença, bateu a porta e se concentrou. Aquele filme de tudo passou como um flash. Olhou mais uma vez.

Saiu acelerando.


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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Acordou às sete. Droga. O celular (ou a sua própria falta de senso) vacilou por meia hora. A noite anterior havia sido regada de exageros. Um tanto a mais que o limite. Sentiu sua cabeça explodir entre conversas que não lembrava, beijos embaçados e risadas irreconhecíveis. Enquanto tomava um banho de gato e corria para não se atrasar, aos poucos, foi lembrando devagar de uma segunda-feira fora da rotina. Lembrou da primeira cerveja, do rapaz no balcão lhe entregando o troco do cigarro e de alguém dirigindo seu carro enquanto dormia no banco ao lado. Típico dia de irresponsabilidade permitida.

- Quer trocar a música? Pode mudar!

Chovia. Não conseguia se acostumar com guarda-chuvas. O tênis já ensopado deixava seus pés gelados. Dia comum, daqueles que começam chatos e terminam bons por própria escolha. Seguiu fazendo os deveres em mais um período de trabalho, com sono. Durante uma hora, se perdeu em textos de endereços virtuais. Muitas coisas na cabeça.

- Nossa, essa música lembra demais. Como pode né, depois de tudo?
- É foda. É foda olhar quem te quer bem e querer enxergar através, quem realmente se quer.

Entrou no carro, precisava daquele momento, mudar a trajetória. Contou sobre dias perfeitos, relacionados à própria água que caia do lado de fora. Banhos de chuvas torrenciais em meio a um dilúvio interno que apesar de característicos de tempo ruim, são ótimos para boas resoluções. Pingos fortes, visão tranqüila, cabeça tentando entender. Recebeu em troca confirmações do que realmente vale a pena. Sabe? Como um impulso com claridade.

- Quando as coisas parecem fugir do controle, mesmo sendo boas, é hora de parar.
- Parar?
- Não parar o que se vive e o que se sente, mas desacelerar e analisar os rumos e as proporções de cada escolha, cada palavra...
- Hummm...


(...)


- E se isso não servir de nada? E se a solução for só parar de pensar?
- Parar de pensar, ou parar de se prender nesses pensamentos?
- Se for pra deixar de pensar, acho que prefiro ser uma prisioneira livre...

A ressaca física e mental foi embora ali.
Ela só precisou de um papo para aguçar o seu sentido...


- ... e continuar sentindo.




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terça-feira, 13 de outubro de 2009

O luar que fez a sintonia da noite.


...
As coisas mais simples são as mais bonitas, sempre.

A cor da pedra não era uniforme. Ela havia sofrido um desgaste natural devido às ondas que vinham ao seu encontro todos os dias, todos os segundos. Imaginar como ela estará daqui a alguns anos é não imaginar, porque é algo que nunca saberei.

A maresia e o vento de um litoral sem defeitos enganava o sol que insistia em bater na minha pele, quente, fria. Enquanto me perdia olhando o horizonte, ele machucava e deixava sua marca, sem a minha percepção. Outro vestígio de que é tudo desse jeito.

Estava ali, em boa companhia, num deck de madeira, pitoresco, cheio de vozes, alegre. O som da banda entrava em mim de maneira muito mais intensa. Cantar as canções exatas de olhos fechados é o que trazia quem faltava ali. Alguém que estava sempre junto, um amor ou um abraço pela contramão. Meu vestido se mexia conforme a música, o céu cheio de estrelas, o mar chegando perto. E a lua, como num feitiço, apareceu amarela minguante. E me ensinou o que eu tentava entender há tempos. Aplausos para ela. Ninguém sabe o que pode acontecer.

Lembrei que me peguei pensando em você nos últimos dias, o mar contava histórias e me ajudou a escrever a minha. Pelo menos um primeiro parágrafo.



...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Letra e Melodia

Ela compõe exatamente o que ele vai tocar. Ele toca sabendo como ela vai interpretar. Um entendimento baseado nas sensações das notas musicais e das palavras. Baseado nele e nela. Só. Mais ninguém.

O som rápido do coração dela se mistura com o som calmo do pensamento dele, com um timbre vigoroso e pesado, minucioso e leve. Diferente. Com alterações. Mas sempre combinando a letra e a melodia.

Ela tem sonhos. Ele não pensa no futuro;
Ela gosta de verde. Ele de azul;
Ela torce para o palmeiras. Ele é corinthiano;
Ela é vegetariana. Ele adora carne;
Ela curte samba. Ele é mais do rock;
Ela estuda medicina. Ele é filósofo;
Ela gosta de sol. Ele procura lugares mais frios;
Ela é sempre tagarela. Ele é monossilábico;
Ela é nota 10 em matemática. Ele só gosta de português;
Ela mora no Brooklin. Ele na Zona Leste;


É assim que eles escrevem a canção. Com muitas diferenças, mas com a mesma sintonia e o mesmo desejo. Só os dois sabem como. Só eles entendem. São diferentes, mas se completam. A melodia é sempre nova e a letra nunca escrita. Uma sem a outra não completa a música. Não existe canção sem ele e ela.

Ela é a letra e ele a melodia.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Penso, logo desisto.

Olhava para meu esmalte vermelho lascado e não conseguia encontrar a calma para controlar o aperto que estava sentindo. Sabe aquele aperto bom? Estava complicado não demonstrar a euforia que sentia desde que tínhamos nos falado pela última vez. Parecia que vários anos haviam se passado e que esse dia passaria em um segundo. Isso que era foda. Saber que depois de um curto tempo o presente já não existiria mais. É uma puta sacanagem. Mas beleza. A vida é assim e eu ainda respeito ela acima de tudo. Como dizia o velho ditado, é tudo certo por linhas tortas.

Nessa hora já senti que estava viajando demais. Busquei um foco. O rádio. Troquei a música umas trezentas vezes, sou uma chata em relação a isso quando eu quero. Começava uma boa, eu me entusiasmava e de uma hora pra outra me enchia. Você puto e rindo ao mesmo tempo. Resolvi parar. Deixei a seleção do mp3 rolar, tocando toda aquela mistura de gêneros que eu tenho mania de escolher. Fumava um cigarro, cantava um pouco, parava. Chegava mais perto, te dava um beijo. Íamos falando besteiras e cutucando um ao outro durante o percurso. Comecei a me entreter com os momentos rápidos. Senti sua mão na minha.

Depois fugi de novo para muito além e olhei a estrada pensando em como o mundo é louco. Como ele pode ter tantos lados. Lembrei de uma filosofia que tive com um amigo uma vez, onde concluímos que a vida é um passo no espaço. Sabe aquela sensação de que todas as suas escolhas, todos as suas decisões, nem você mesmo sabe onde vão dar? Ela é muito real. Já tinha pensado muito sobre isso, mas só com uma ajuda relaxante consegui fixar. Minhas opiniões deixaram um pouco de serem consistentes nos últimos dias, deixei de ser tão dura. Mas procuro seguir meus princípios, mesmo que apareçam as falhas. Porque afinal, quem é perfeito?

Tomei um gole de água e quis entrar num assunto assim com você, mas desisti na hora. Sei lá, fiquei meio cabreira em debater essas idéias que poderiam se tornar pesadas demais pra carregar. Preferi guardar. Aí já bateu a revolta contida de não te dizer o que penso. Receio, talvez. Por tudo que já aconteceu em relação a nós dois. Tudo bem. Foi aí que você me puxou. É o deitar no peito que eu mais gosto, de fato. Ficamos conversando horas e horas parados ali. Desligamos o som. Entrega.

Gostei de chegar à conclusão que você entendeu sim, tudo o que se passava na minha cabeça, um monte de coisas. Por isso me olhou, me trouxe pra perto e me fez parar de pensar.

Não saímos do lugar e estávamos longe de tudo.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009


A mesa de bar naquela terça pós segunda aula me convenceu a viajar. Mudança de ambiente para um roots, com verde, quartos e copos. Fazenda. Praia. Não importa.

Desde a primeira, naquele segundo ano, o coração se abriu para novas cabeças, novas idéias, novas e intermináveis risadas. Amizades em tons de laranja, exageradas, daquelas que me faziam chorar às gargalhadas. Algumas já vinham de antes, outras chegaram para cravar no peito.

Garotos inteligentes. Óculos, chapéu de palha, cabelo black power, malinha inseparável do Corinthians. São paulinos, palmeirenses e o santista. Babacas brilhantes. Locões do jeito certo. Conversas sempre boas. Garotas da catuaba. Amigas que permanecem. Shows de samba, rock, tributos aos velhos e aos novos, palco da simpatia. Reggae, quanto mais melhor. A busca pelo ponto de equilíbrio com muito mato seco que marcou lugares, brigadeiros, sonhos. A agência de turismo que organizava tudo com duelos. Duelos de grau, de garrafas, moedas contadas, éramos assim. Barracas num lamaçal, latas e muitas coreografias. Bateria, vozes, volume máximo em dias inteiros. Hinos que ainda são nossos. Rua Augusta, do Oiapoque ao Chui. Calor. Beijos. Paixões. Festa. Comemoração da vitória gravada com a fita das reportagens especiais valendo nota. Jogos de ressaca. Torcida feminina lado a lado e a derrota constante nas finais dos campeonatos. Volantes com perigo. Velho barreiro com groselha. Um barco.

Uma puta lembrança boa de um tempo de cervejas às sextas-feiras (às quartas, quintas...), churrascos, piscinas. Filosofias de futebol regadas a cochichos e comentários idiotas, um tanto pornográficos e contagiantes num fundão de classe universitária que era unida.


Dentro permanece. E é assim em cada um, por incrível que pareça.

Chegando ao final ela parece distante, rumos e degraus diferentes. Poucos dias de encontro, quase nulos, ligações esporádicas em um período que isso deveria ser diferente. As mesas ficam vazias. Geladas escassas.



Nem as fotos eu coloquei no lugar. Deixei de lado.
Aguardo as novas. Viajaremos juntos de novo.

“We are gonna rule the world”

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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Prozac - Capítulo II

Ela ficou por alguns instantes ali parada, como se pudesse advinhar. Logo, voltou a dizer:
- Amor, cheguei.
Mais silêncio.
Foi em direção ao quarto, abriu a porta de sopetão. Nada. Cama arrumada, como a empregada deixou pela manhã, camisa limpa e passada na cadeira, ainda sem usar. No banheiro, o barbeador em cima da pia, como na noite anterior. Na cozinha, um prato sujo sob a mesa e uma lata de cerveja vazia.
- Filho da puta.

*

Ele foi embora. Preferiu deixar tudo como estava, inclusive a vida extraconjugal da mulher. Prefere não brigar, não argumentar e seguiu firme em recomeçar uma vida que, de fato, nunca havia começado pra ele. Levou consigo apenas algumas mudas de roupa. O resto ficou para que ela não fuja da presença dele. Tão cedo.

Rosana chorou.
Chorou porque ele não se importou. Chorou pela indiferença. Chorou porque não houve uma palavra, insulto, ou drama hollywoodiano. Muito menos tapa na cara. Ódio e amor são sentimentos que se completam, pensou ela.
Ela queria indignação, uma promessa de que ele a abandonaria para sempre, gritos e palavrões. Ela não tinha nem o que merecia, por natureza, frente ao romance barato.
Sim, Rosana.
Ele se foi, deixando a vida toda ali para que você pense que ele volte um dia.
Mas não. Esse não volta mais.

Tomou um Prozac. Se perdeu ao tentar construir a desculpa que daria a toda sua família e o que faria dali pra frente. Preferiu antes ligar ao amante.
- Edson, tenho muito a falar com você.
- Oi, Moreira. Estou no ballet da Bianca. Te ligo semana que vem, marcamos um almoço, ok?

Sentiu um peso nas costas.
22 de julho e começa o inverno. Um frio inédito pra ela.
Longo, vai durar até meados da primavera.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Amigos de aluguel

Eu sou uma pessoa que dá muito valor aos amigos. Amigo pra mim é muito mais que pessoas que você conhece para dividir alegrias e problemas.
Pra mim, os amigos são a família que Deus nos permitiu escolher e eles sempre estiveram presentes na minha vida e em muitos momentos, bem mais do que meus próprios pais.
Por eles dedico tempo, amor, solidariedade, carinho e o melhor de mim, e também usufruo do conforto da companhia, dos momentos felizes e dos seus ombros pra chorar meus medos, problemas e angustias.

Numa conversa descomprometida com uma amiga muito querida, descobri algo trágico, medonho e diferente. Na verdade, não sei como qualificar nem adjetivar isso.
O site -
www.amigosdealuguel.com.br – basicamente aluga amigos; é isso mesmo.
Estou pasma e boquiaberta em pensar para onde a humanidade está caminhando, o quanto o capital está tomando conta das nossas vidas. Daqui a pouco não existirão mais amizades sinceras, ombros amigos para chorar (será que até a amizade vai virar um bem de consumo?).
E me pergunto: quanto será que custa um amigo? – mesmo por algumas horas- Sim. Porque minhas amizades, não há dinheiro no mundo que pague.

O site diz: “Seus amigos de emergência”, e mais: “Para você que precisa de Companhia para Festas, Eventos, Almoço/Jantar, Compras e até mesmo para Conversar”.
Então, não preciso conquistar mais ninguém, reconhecer um companheiro, cultivar uma amizade, posso como tudo na vida moderna, não pensar jamais no coletivo, só no individual e se um dia eu me sentir sozinha, eu alugo um amigo.

Que caos que está se tornando as relações humanas em prol do interesse financeiro! Ainda preciso de um tempo para assimilar essa novidade. E achar uma saída para me preservar de tudo isso sem colocar em cheque a minha sobrevivência que se torna a cada dia mais difícil.


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Apesar de tudo.

Apesar de tudo, aquela casa ainda me trazia boas lembranças.
O cheiro, as cores frias, o azulejo da cozinha antiga e os móveis em tom pastel.


Passei por tanto ali, minhas vontades eram diferentes a cada cômodo.

Estrepei-me com tombos nas escadas e corri em busca de um futuro nos jardins em torno dela. Agora compreendo.


Meu mural de fotos permanecia intacto. Fotografias velhas e repletas de verdades, de tudo que se passou com ela, com ele, com você e com a gente. A gente.
Simples assim.

Minha memória ainda é boa.

Voltar traz à tona milhões de questionamentos, de saudade matada até a pressa de libertar tudo aquilo que deixei trancado no baú do quarto com chão de giz.
A fumaça que saia do cigarro e ia embora pela janela confirma o medo constante de ouvir uma música, de comer um chocolate, ou de usar um belo vestido em noite especial. Por ser bom e não ser pra sempre.


"É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama"



Respirei. Senti mais uma vez o ambiente.
Eu vivi tudo aquilo que podia ali, estava tudo guardado em cada parte.

"No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto"


Estiquei a colcha da cama.

Foi o último minuto.







com pitadas de Fernanda Doniani.


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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Para falar das flores


Quase quatro dias
Mais de quatrocentas mil pessoas
Quarenta anos se passaram

A mais perfeita definição de sexo, drogas e rock´n´roll.
O melhor evento da paz e do amor,
dentro da efervescência política sessentista.


Antagonismo do século 20 em forma de cabelão e LSD.
Porque cada um sabe a melhor forma de lutar contra a guerra.
Mesmo que seja não falando dela.
Natureza, guitarra;
Jovens e flores.

Muitas delas.

Um festival sem planejamento, pra compensar o último ano de Janis e Hendrix.


Santana ta de prova.




quarta-feira, 15 de julho de 2009

Rosana, 36, adúltera e profana - Capítulo I

Se encontram sempre às terças. Toda semana, pontualmente. Caso haja atraso, chega para ele o SMS “entrega será feita após o horário, sr Edson”. Por ele, nem torpedos deveriam existir, mas ela, como boa libriana metódica, precisa explicar exatamente cada mudança de plano. Ou talvez se divirta com pseudônimos.
Assim, naquela terça-feira fria de fim de junho ela encerrava o expediente mais tarde e despachava os emails finais. Um último, breve, ao marido: Amor, não se esqueça que hoje é dia do meu curso, chego depois das 22h.
Vestiu o casaco, cachecol e entrou no carro. Trânsito paulistano, saia até os joelhos, meia fio 40 e scarpin. Cinco cigarros depois ela chega ao restaurante. Ele, inquieto, acena e se aproxima rapidamente. A interrompe com um beijo: “vamos logo?”.
Entram no carro dele.

Ele (camisa e calça jeans) não é uma pessoa de muitas palavras. Não gosta de contar o dia, nem comentar a semana ou opinar política. Ela, que só fala de política, despeja nele toda sua vida e frequentemente um punhado de reclamações. Quase um monólogo. Não por achá-lo o melhor ouvinte, mas por não ter outra opção. Como uma necessidade em desabafar, típica de quem não sabe prender palavras. Mas ele não liga, aliás, nem se importa - já que não absorve nenhuma informação que venha dela. Na verdade a julga muito pouco politizada e ri da maneira como ela repete frases famosas fingindo ser de sua própria conclusão. No entanto, para ele há um golpe fatal: Rosana, 36, é muito atraente. Demais e além do que o seu orgulho gostaria que fosse.

Pois assim, seguem o trajeto daquela terça, que começava a garoar.
Adentram o motel, que é o mesmo desde o primeiro encontro. Um pouco mais caro do que ele pode pagar; um pouco mais barato do que ela gostaria de frequentar.
O tempo sempre passa rápido, afinal, o único sentimento que talvez paire exatamente neles é a emergência. E viver o momento com rapidez e precisão é vê-lo voar. Sabem que precisam daquele instante e aprenderam a se completar, dessa forma.
Típico caso extraconjugal.

Mas eles não têm competência para o adultério, e isso não vai tardar a preocupá-los. Às 23h55, ela volta pra casa. Enquanto sobe as escadas se lembrou da história de uma estagiária e se sentiu bem por ter naquele instante a mesma sensação adolescente que ela. Percebeu, porém, o perfume dele ainda entrelaçado em sua roupa. Sorriu.
Pendurou o casaco.
- Amor, cheguei!
.

.

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Só que nessa terça, Rosana, ninguém respondeu.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Raízes de uma árvore.

Sentou entre os galhos secos da árvore preferida e abriu seu livro. Pensou com carinho no presente da amiga, que tinha gostado tanto. Abriu na página 53 e se perdeu entre as linhas.

Uma história tão próxima, pensou.
Vagando pelas páginas, já não estava mais atenta aos parágrafos, sentia-se sonolenta. Queria dormir profundamente, mas sua mãos buscavam algo. Pegou o celular. Em um minuto mandou a mensagem.

- Ow, tá fazendo o que?

Acendeu um cigarro com o contraste de céu e mar.

- Nada e vc?
- Nada tbm. Me encontra no Vila?
- Oks.

Deu uma esticada nas pernas. Andava tão distraída nos últimos dias, que até seus causos mal resolvidos haviam se perdido entre as frases com as amigas.

- Ô, e ai, tudo bem?
- Tudo nega e você?
- Bem também.

A profundidade dos passos até o bar era tão forte que a conversa não tinha início. Pensava em como iam trocar os rumos, se os caminhos eram sempre os mesmos.

- Puta, encontrei a Lú esses dias, está diferente né?
- Ah é, nunca mais vi... Diferente por quê?
- Ah, sei lá... Sumiu de uma hora pra outra... Mudou, saca? Não é mais a mesma.
- É assim mesmo. Namoro, trampo, rotina. Vai ser assim com todo mundo.
- Eu não quero.
- Pelo menos a Ná não mudou.
- É mesmo. E ainda bem que tenho certeza que você não vai mudar também.
- Churrascos de galera antiga e nossos filhos amigos.

Sentaram em meio ao barzinho aconchegante. Tocava uma música boa. Era sempre com ritmo a tranqüilidade dos casos e acasos. Discutiam as versões da canção enquanto o suor da cerveja caía pelo copo americano.

- Nossa. Liga pra Carola, a música dela tá tocando.
- Alô, ô, tamo no Vila, vem aqui.
- Beleza. Tô no maior tédio.

Ela sempre vinha com aquela cara de “ai, amo vocês”. Isso fazia bem. As conversas começavam a sair de forma descontrolada. Risadas. Pede mais uma.

- Alô. Oi Ná! Puta, acabou de tocar La Belle De Jour!
- Onde cê tá?
- No Vila com as meninas.
- O neguinho tá dormindo. Vou praí.

Para ela as coisas eram tão mais simples, mesmo não sendo na maioria das vezes.
A leonina era o oposto, acho que por isso a amizade mais velha durava.
“Não quero beber o teu café pequeno”

- Aiii adoro! “Não quero medir a altura do tombo, nem passar agosto esperando setembro”.

Ali se iniciavam as filosofias de boteco. Sábado à noite, o céu estava estrelado àquelas horas. A bandinha tocava para poucos gatos pingados naquele fim de semana praiano de um julho gelado. Mas estavam ali, relembrando, fazendo planos, falando dos sumidos e lembrando dos moles aparecidos.

- Lembra quando fugimos do vô? Fedô se estivesse junto teria curtido.
- Claro, tínhamos 15 ou 16 e muita vida pela frente. Época boa viu.
- Eu teria tropeçado certeza.
- Nossa, eu também teria tropeçado certeza.
- Você é uma idiota.
- Oi lindas, vocês são de onde?
(ai, quem é esse bebasso?)

Depois de umas frases mal trocadas, se viram livres.
Duas, três da manhã.
Com passos miúdos voltavam pra casa de praia com míseros centavos no bolso. As ruas mal iluminadas davam a sensação de caminharem a esmo, só com elas mesmo.
Algumas risadas noturnas no silêncio do quarto e uma a uma, foram pegando no sono.
Sonharam com momentos distantes, formaturas, histórias contadas, choros em conjunto.
Aonde suas vidas iam parar?

- Gente, tão acordadas?
- Aham...
- Não...
- Vamos pra praia?
- A Mari tá vindo, pegando estrada. Fala pra ela comprar xampu que acabou.
- Alô, Maricota, compra xampu?
- Já comprei né, sabia que você ia esquecer.



Especiais porque sabem que conhecer bem é possível.
Que confiança existe.
E que o presente, será pra sempre um futuro amigo.



...

Sentou entre os galhos secos da árvore preferida e abriu seu livro. Pensou com carinho no presente da amiga, que tinha gostado tanto. Abriu na página 53 e se perdeu entre as linhas. Uma história tão próxima, pensou.
Vagando pelas páginas, já não estava mais atenta aos parágrafos, sentia-se sonolenta. Queria dormir profundamente, mas sua mãos buscavam algo. Pegou o celular. Em um minuto mandou a mensagem.


- Ow, tá fazendo o que?


Acendeu um cigarro com o contraste de céu e mar.


- Nada e vc?
- Nada tbm. Me encontra no Vila?
- Oks.


Deu uma esticada nas pernas. Andava tão distraída nos últimos dias, que até seus causos mal resolvidos haviam se perdido entre as frases com as amigas.



- Ô, e ai, tudo bem?
- Tudo nega e você?
- Bem também.

A profundidade dos passos até o bar era tão forte que a conversa não tinha início. Pensava em como iam trocar os rumos, se os caminhos eram sempre os mesmos.

- Puta, encontrei a Lú esses dias, está diferente né?
- Ah é, nunca mais vi... Diferente por quê?
- Ah, sei lá... Sumiu de uma hora pra outra... Mudou, saca? Não é mais a mesma.
- É assim mesmo. Namoro, trampo, rotina. Vai ser assim com todo mundo.
- Pois é.
- Pelo menos a Ná não mudou.
- É mesmo. E ainda bem que tenho certeza que você não vai mudar também.
- Churrascos de galera antiga e nossos filhos amigos.


Sentaram em meio ao barzinho aconchegante. Tocava uma música boa. Era sempre com ritmo a tranqüilidade dos casos e acasos. Discutiam as versões da canção enquanto o suor da cerveja caía pelo copo americano.

- Nossa, que lama. Liga pra Carola, a música dela tá tocando.
- Alô, ô, tamo no Vila, vem aqui.
- Oks. Tô no maior tédio.

Ela sempre vinha com aquela cara de “ai, amo vocês”. Isso fazia bem. As conversas começavam a sair de forma descontrolada. Risadas. Pede mais uma.

- Alô. Oi Ná! Puta, acabou de tocar La Belle De Jour!
- Onde cê tá?
- No Vila com as meninas.
- O neguinho tá dormindo. Vou praí.

Para ela as coisas eram sempre resolvidas com calma. A leonina era o oposto do meu ser, acho que por isso a amizade mais velha durava.
“Não quero beber o teu café pequeno”

- Aiii adoro! “Não quero medir a altura do tombo, nem passar agosto esperando setembro”.

Ali se iniciavam as filosofias de boteco. Sábado à noite, o céu estava estrelado àquelas horas. A bandinha tocava para poucos gatos pingados, naquele fim de semana praiano de um julho gelado. Mas estavam ali, relembrando, fazendo planos, falando dos sumidos e lembrando dos moles aparecidos.

- Lembra quando fugimos do vô? Fedô se estivesse junto teria curtido.
- Claro, tínhamos 15 ou 16 e muita vida pela frente. Época boa viu.
- Eu teria tropeçado certeza.
- Nossa, eu também teria tropeçado certeza.
- Você é uma idiota.
- Oi lindas, vocês são de onde?
(ai, quem é esse bebasso?)

Depois de umas frases mal trocadas, se viram livres.
Duas, três da manhã.
Com passos miúdos voltavam pra casa de praia com míseros centavos no bolso. As ruas mal iluminadas davam a sensação de caminharem a esmo, só com elas mesmo.
Algumas risadas noturnas no silêncio do quarto e uma a uma, foram pegando no sono.
Sonharam com momentos distantes, formaturas, histórias contadas, choros em conjunto.
Aonde suas vidas iam parar?

- Gente, tão acordadas?
- Aham...
- Não...
- Vamos pra praia?
- A Mari tá vindo, pegando estrada. Fala pra ela comprar xampu que acabou.
- Alô, Maricota, compra xampu?
- Já comprei né, sabia que você ia esquecer.

Especiais porque sabem que conhecer bem é possível.
Que confiança existe.
E que o presente, será pra sempre um futuro amigo.





terça-feira, 23 de junho de 2009

Tentativas.

Percebo há alguns instantes que meus olhos tentam te encontrar.
Que minhas mãos querem te tocar.
Que meu peito quer falar, soltar, frases altas, com gritos, gemidos até então presos.
Peço que me deixe ao bater a porta, mas que não bata na minha janela só pra me fazer escutar.

Preocupo-me com cada parte do teu corpo, mas muito mais com o meu, que chama o teu em silêncio, e se esforça para nadar contra a corrente das vontades.
Interesso-me por cada passo, penso em cada quadrado de chão que você pisa.
O exagero dilata minhas pupilas e me retrai, só por isso permaneço com os pés fincados.
Procuro não levar mais a sério.

Sou mais uma entre tantas, com a pele que já foi manchada.
Não quero mais pensar numa constante, tentando manter os apertos e a saudade excluídos dos sonhos de fim de noite.
Mas a noite sempre termina, o relógio nunca pára e os sentimentos permanecem firmes, como rochas.
Ainda bem.
É o maior sinal de felicidade, sentir e ter sentido.
A inquietação faz parte do cotidiano e eu quero embebedá-la.
Porque querer e não querer sentir, quando se sabe que é fora de cogitação tocar de novo, machuca.
Será que consigo ser um objeto? Ser não pensante?
Em certos momentos eu queria. Sim, é verdade.
Pensar é relembrar. Coisa boa.
Mas quando vira tortura não vale a pena.
Considero ser responsável e ao mesmo tempo inocente em relação aos últimos atos.
Últimos, que mais pra frente serão os primeiros.
Possuo todos os defeitos e qualidades em uma mistura.
Mas me permito.
Sou mais forte que o medo.










Na eterna tentativa,
com expectativas de sucesso,
de controlar o pensamento
e abafar o sentimento.






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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Começo !!!


Apareceu no momento que eu mais precisava e no momento que eu menos esperava. Aconteceu!
Não sei o que passa pela sua cabeça, só sei que na minha você passou a ser constante.
O seu sorriso foi a porta de entrada para a admiração inicial. Com a mesma cor (a cor que põe o sol), com os mesmos gostos e com a mesma sintonia.
Estamos dando corda ao relógio, mas em certos momentos queremos que ele pare. Pode ser que o relógio desperte e acordemos do sonho, mas o sonho já é o começo!






quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ela faz o seu melhor.

Ela não consegue mais escrever.
Estava ao seu lado, quando ouvia seus resmungos insatisfeitos de letras mal escritas.
Mal arranjadas, arranjos sem melodia.
Pedi que tivesse calma, que esperasse pelo seu melhor momento, talvez isso fizesse sua cabeça pensar com mais clareza, e não como seus toques no teclado de momento, que saiam como tiros no escuro.

Recebi como resposta um choro contido.
Pedi que soltasse, porque sabia que ela era capaz de fazer o seu melhor, quando chegasse a hora certa.
Sei que falei em vão.
Em certas circunstâncias, não adianta incentivar.
Ela aceitaria quando estivesse preparada.
Depois de dez minutos de angústia isso aconteceu.

Ela era realmente linda, com longos cílios que me faziam pensar por longos minutos se aquilo tudo era real.
Será que seus parágrafos não saiam porque ela estava triste?
Não sei dizer...
A única coisa que fluiu na minha cabeça é que ela não merecia nada daquilo.
Ainda bem que tenho a certeza que suas palavras vão voltar em um curto espaço de tempo. Porque ela ainda tem muita história pra contar.
Muitos dias pra aprender...
Muitas semanas pra se apaixonar.

sábado, 9 de maio de 2009

Dos relacionamentos humanos...



Eu tinha de 9 para 10 anos quando pedi:

“Pai, me compra uma planta carnívora?”.

Confuso, ele me questionou:

“Mas pra quê você quer uma planta dessas, filha?”

“Para ver como é que ela devora os insetos mesmo sem poder sair do vaso”

...

A minha planta carnívora chegou em pouco tempo. Dei a ela o nome de Genésia e volta e meia, eu encostava uma folha no que na época eu chamei de “boca da planta” só para vê-la fechar. Era para mim um mecanismo fascinante. E ver como um ser que parecia tão frágil e indefeso podia ser tão mortal e perigoso me empolgava mais ainda.

Mente quem diz que crianças são boas. Crianças são más.

A verdade é que a Genésia morreu em pouco tempo. De tão deslumbrada com o fato dela ser tão forte, feroz e até perigosa para seres menores, eu esqueci de regá-la. Julguei que ela fosse capaz de se alimentar sozinha e sobreviver sem que eu a ajudasse.

Ela morreu por descuido meu, assim como morrem todos os relacionamentos humanos que julgamos serem tão fortes a ponto de não precisarem ser regados.

E eu, criança estúpida e inconseqüente, jamais pensei que talvez ela ficasse triste ao me ver regar a orquídea que nem me divertia tanto quanto ela, quando se fechava diante de mim.

É. Assim são todos os relacionamentos entre pessoas e plantas.

domingo, 12 de abril de 2009

Da pouca água que me resta

Entenda que essas linhas só serão plenamente compreendidas por aqueles que um dia já quiseram engarrafar todo o seu bem-querer.

Aqueles que, cansados de ver a água se esvair pelos dedos das mãos, desejaram colocá-la toda dentro de uma garrafa para bebê-la pouco a pouco. Caso o líquido fosse escasso, o que na maioria das vezes é verdade, porque nunca há amor que sobre, poderia descer pela garganta apenas um gole a cada ano, para diminuir a saudade daquele amor tão doce e gentil que insiste em ir embora.

E esses, que sentem falta desse amor, vão entender que no auge da sede é que se tem vontade de virar de uma vez só a garrafa. Mas quem tiver juízo há de pensar que aquilo é tudo que resta de quem se foi para nunca mais voltar.

E dói. E revolta. E entristece. Morrer de sede é triste. Viver com sede também.

Mas é que a liquidez é implacável.E se não for ela mesma a entrar pelo vão dos dedos e escapar de mim, será o tempo que a fará sumir, evaporar.

E para quem entende a dor dessas linhas, ainda resta um consolo. A água que evapora, a gente respira, e esse amor que vai embora, esse tão antigo e tão profundo, esse eu talvez não possa mais beber, mas eu vou sempre respirar.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Boa noite.


Você diz que eu te assusto.
Você diz que eu te desvio.
Você diz que eu sou bruta e que ainda te desprezo.
A verdade é que eu me comporto mal.
Eu não gosto do bom senso.
Eu não rezo e talvez nem tenha salvação.

Esqueci o que me disseram sobre casa, filhos e televisão.
É preciso ser sangue frio para ver que o sangue é quente.
E que, de alguma forma, dessa vez, possa ser diferente.

Pode ser o que nunca vi.
Pode ser o que tenho na mão.
Pode ser exatamente o que eu digo ou pode ser não.
Abandonei alguns sonhos.
Me desapeguei de regras e da exceção.

“Fiquei muda ao lhe conhecer

O que vi foi demais, vazou
Por toda selva do meu ser
Nada ficou intacto
Na fronteira de um oásis
Meu coração em paz, se abalou
É surpresa demais que trazes”

Acho que o acaso faz charme.
Manda o amor chegar sem dar aviso.
E na noite alta se releva, dia claro, madrugada...
“Um passeio pela pele”
Você não tem medo de mim.
Eu tenho medo de querer.

Você diz que eu sou doida, que sou carente de razão.
Também diz que eu sou cruel.
E no silêncio por trás daqueles vidros embaçados, eu te abraço.
É suborno de desejo.

Quem sabe a gente não se encontra pela rua?
Ainda é cedo e tudo pode acontecer.
Pode ser que eu ria de mim.
Pode ser que eu queira demais.
Pode ser que seja fugaz.

Se eu te trago sorte, aposte em mim.
Pode ser que seja normal.
Pode ser que seja fatal.
Se você quer calma, eu quero um temporal.
Romântica de culpa.


“Não existe amor sem medo
Boa noite!
Para quem não tem para quem se dar, o dia é igual à noite
Tempo parado no ar, há dias
Calor, insônia, noite
Quem ama vive a sonhar de dia
Voar é do homem
A vida foi feita para estar em dia”

segunda-feira, 6 de abril de 2009

...

O contrário do que pedia era muito mais tentador aos outros olhos.
Os olhos que me seguiam eram muito mais tristes.
Mais infindos do que os que eu desejava.
Desejar é preciso.
O que é preciso é o que não me agrada.
O mundo parou num momento incerto e tudo fazia o não, ser um atrativo a mais que o sim.
Sim, sim, eu sei.
Não que eu me deixe levar pelo o que eu não quero.
Mas o que eu quero ás vezes não é que me cai bem.
Não, eu não deixei.
Troquei o duvidoso pelo certo e o incerto pelo nada.

Porque
de você sei quase nada
pra onde vai ou porque veio.



quinta-feira, 2 de abril de 2009

Nada e Nunca. Tudo e Agora.

Salto leve
Música intensa
E o sono foi duro
Duro como seus olhos quando decidi dizer adeus.

Sentidos atentos
Coração apertado
E vem a lembrança
De que aquelas mãos não tocarão mais

Olhos mais tristes
Querendo desistir
E a voz insiste no que é certo
Ela tranqüiliza, pedindo calma e tempo

Mãos que apertam
Pés que pedem o chão
Rosto que sente falta daquela outra pele

Agora ou nunca
Tudo ou nada


Nada que tire tudo que você me trouxe. Nunca senti tanta falta como agora
.

segunda-feira, 30 de março de 2009

DISRITMIA


Por tudo aquilo que pensara recentemente, foi tão dura.
Porque sabe que no fim tudo fica melhor, embora ainda estivesse no começo.
“São como ciclos. Ora bem, ora ruim”, ouviu de alguém com pouco mais de 20 anos e algumas histórias pra contar.
Será que é um sinal de que ainda há o que aprender?

Ela não sabe.

Numa moldura simples, como tela de papel e aquarela, ela se expõe entre as belezas de tinta à óleo.
Se destaca?

Ela não sabe.

Ora sente bem, ora ruim.
Ela também é um ciclo (chegara a conclusão).
Mas de que adiantam os bares se a vida noturna deixa, junto com o troco amassado, tudo igual?
Ela não sabe.

A rapidez dos fatos e pequenas escolhas bifurcam um destino.
Destino que podia ser planejado, vivido com calma. E talvez compartilhado.
Mas não. Tudo faz parte de uma eterna disritmia.

E isso... isso ela sabe.



terça-feira, 24 de março de 2009

Lições da infância


Tinha por volta dos 11 anos e desde sempre quis uma Barbie, eu tinha primas que tinham e isso me deixava muito triste. Por que triste? Porque eu pertencia a uma dessas famílias brasileiras que vivem com um salário mínimo, 3 filhos e a mãe com uma saúde muito frágil. Era exatamente isso, eu não entendia na época, hoje eu penso no que meu pai passava para nos sustentar. Bom, a questão é como eu consegui minha primeira Barbie (a Tânia), esse era o nome dela. Eu achava esse nome lindo! Ela era jornalista e uma mulher muito bem sucedida, assim como me considero hoje.
Minha mãe deu em um brechó da cidade seu vestido de noiva, sua maior relíquia em troca da boneca, eu estava doente e ela temia que fosse pelo desejo de ter a Barbie.
A Tânia veio embrulhada num papel de pão, com uma roupinha humilde sem sapatos e com o cabelo cortado, sua antiga dona não a amava tanto e tosou o cabelo da coitada. Vale falar que o cabelo e as roupas das Barbies são o que elas têm de mais encantador, mas a Tânia não tinha nem cabelo nem roupa bonita. Ela era morena, tinha um mecha loira. E foi com ela que aprendi a ser uma mulher de verdade, pois as mulheres não nascem lindas, elas tem que se moldar. Nossos cabelos nunca estão como queremos e nunca temos todas as roupas e sapatos que desejamos. Toda noite eu amarrava um elástico na testa da Tânia pro cabelinho dela abaixar, pois era muito curto e armava pra cima, isso mantinha o cabelo dela pra baixo, e ela podia ser linda e glamorosa o dia todo na sua vida corrida de repórter. O namorado da Tânia era um pente da altura dela, os copos da Tânia eram as tampinhas de pasta de dente que eu roubava da casa das pessoas que meu pai ia visitar no fim de semana.
Minha casa era em uma vila, portas e janelas abertas para outras portas e janelas, separadas por um estreito corredor de cimento. No relevo acidentado da cidade sul mineira, a vila ficava em um nível bem abaixo da rua. Eram dezenove degraus para dar o ar da graça a outros vizinhos e ao leiteiro todo dia de manhã.
Minha protegida Barbie tinha um apartamento lindo, uma cobertura exatamente no último degrau, onde ela poderia sair na sacada e ver o Cristo Redentor – era o Cristo de Poços – mas a Tânia era carioca da gema e morava em Copacabana.
Logo em seguida comecei a trabalhar, não tive mais tempo para sonhar com meu futuro brilhante. A Tânia ganhou lindas roupas, resultado dos meus tostões semanais. Por isso ela me ensinou outra lição, dinheiro ou felicidade. Ela se tornou elegante, rica, porém infeliz, porque ficou largada num canto do meu guarda-roupa. Admiro muito a minha Barbie Tânia e agradeço por tudo que essa imagem de mulher perfeita trouxe pra mim.

quinta-feira, 19 de março de 2009

sincopado.


Te pego qualquer hora pra fugir daqui e consigo seus olhos que dizem que sim com a força e aquela vontade que eu sinto depois de um sábado que poderia ter sido de outro jeito. Sem vestígios. Percebo que aqueles rompantes de raiva e frio e medo vão embora junto com os copos de cerveja que tiraram a minha sede e trouxeram uma embriaguez desejada. Junto tudo num potinho de coisas que vão me trazer o desencanado que quero. Ligo, saio, vou embora, vou pro frio, vou pra longe com sonhos que tenho quando durmo e que continuam quando acordo. O que é nosso está guardado em mim, mas meu corpo não responde para tais expectativas.
Depois disso, começo. Fumo o que me agrada, bebo o que me sustenta e a risada sai despercebida em ruas e bares longínquos. Vejo seu vulto de longe, mas é só o vulto, como tem que ser. Procuro minhas chaves, meu relógio que atraso para sua hora não chegar. Peço outra cerveja. Minha respiração já parece lenta perto das horas anteriores. Mesmo sem querer, busco teu carro em faróis distantes e fico puta porque percebo que te quero. E quero mesmo, sem teorias de um futuro bom ou de um lance concreto. Grito por dentro e mando à merda tudo que vagueia por dentro e por fora, como vozes dos outros ou meus pensamentos idiotas. Nem tudo deve ser levado a sério, só as lembranças de bons momentos. O som do junkie Box me relaxa, talvez pela esperança que a madrugada traz fazendo-me esperar por ti.




Ela vivia me prometendo algum tipo de fuga, sem data marcada, sem plano traçado, sem google maps e premeditações de qualquer tipo. Eu fingia acreditar e contava algumas histórias de livros como se fossem minhas. Minha visão se dividia entre seu rosto e o horizonte enquanto dirigia sempre pelo mesmo caminho para deixá-la em casa e, ligeiramente embriagado pela última rodada de brahma e por alguma felicidade piegas, pegava o caminho de volta para o lar doce lar com o som no último volume cantando algum folk lento e leve. Às vezes a gente se perdia e se encontrava pelas mesmas ruas. Como naquela terça em que eu bebia com alguns amigos quando te vi passar e apenas ignorei. Estava de costas e podia sentir seus olhos, a dúvida. Não comentei nada. Talvez eu só estivesse bêbado demais pra te ver em qualquer lugar.
E eu preferia, naquela hora, não lembrar que estava me deixando levar desse jeito, embora sempre tivesse sido um adepto da vida sem rumos. Na teoria.
Então eu ligava e marcávamos alguma coisa. Eu chegava sempre atrasado, você na terceira cerveja e eu ainda sóbrio e um tanto sem graça, deixando o medo segurar um pouco as palavras e as intenções. Encho meu copo lentamente, olho pra cerveja que preenche o vazio, olho pra você, vazio, cheio. Transborda. Transborda e quando vejo já estamos num beijo com álcool com afeto e a noite parece marcar a hora zero.









































em parceria com Luciano Costa.






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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Dos muitos socos que não dei

Havia uma menina irritante na minha sala de aula do pré-primário. Ela era mais alta do que todas as outras meninas, mais desajeitada e , se não me falha a memória infantil, meio vesga também.

Ela, cujo nome eu cordialmente esqueci, criou o péssimo habito de atormentar todos os outros alunos da classe. Era encrenqueira, falsa, gritava e mentia com uma qualidade quase adulta.

Por alguma razão espiritual, genética ou altamente misteriosa, eu nunca revidei as ofensas da pequena víbora. Nunca chorei também, fato que me transformou num alvo tentador para a miniatura de vilã, que colocava bichos na minha lancheira, criava casos, mentiras e alegava que eu havia batido nela. E eu? Bem, por alguma razão espiritual, genética ou altamente misteriosa, eu não me importava.

Alguns anos depois, já devidamente alfabetizada e sem o contato diário com a mini-mocréia, o destino teimou em nos juntar novamente. Ela, que também já estava alfabetizada e, consequentemente mais maléfica, voltou a integrar minha turma na terceira série do ensino fundamental. Mas se o desejo em ver sangue da filha-da-puta mirim cresceu, o meu auto-controle não deixou por menos, e eu era boa nisso.

Resultado: a mini malfeitora desistiu de me encher, e resolveu pegar no pé um menino que usava botas ortopédicas, óculos de grau e bombinha para asma. Todos os dias ela destilava suas ofensas, provocações e humilhações à pequena vítima.

Até o dia em que eu surpreendi a nossa vilã em mininatura arrastando os óculos do garoto no asfalto da rua. Com as mãos, ela percorria boa parte do chão a da escola, enquanto olhava para ele com um prazer indescritível.

Por alguma razão espiritual, genética ou altamente misteriosa meu primeiro ímpeto foi pegar a garota pelos cabelos, e percorrer com o rosto dela o mesmo caminho que os óculos haviam passado.

Em um minuto, a diretora do colégio apareceu, chamou meus pais, me suspendeu por uma semana das aulas, me encaminhou a um psicólogo e me obrigou a freqüentar estúpidas aulas de poesia infantil.

Na oitava sessão com o psicólogo, ou oitavo encontro com o grupo estúpido de poesia, eu conclui que, se eu tivesse dado um grande e gostoso soco no meio do estomago da pequena escrota quando estávamos no prezinho, provavelmente ela aprenderia a lição, não incomodaria mais ninguém, eu não iria precisar esfolar o rosto da garota no asfalto e, consequentemente, não seria obrigada a freqüentar um psicólogo anos mais tarde.

O problema é que por alguma razão espiritual, genética ou altamente misteriosa eu continuo segurando o primeiro soco, sem pensar que isso pode resultar em ações muito mais horríveis quatro anos mais tarde.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Pra vocês.


Início de sábado, tédio. Telefone na mão, elas combinam o programa pras horas seguintes.
- Cerveja, pernas de índio e papos pro ar.

Enquanto uma liga a vitrola antiga do pai, as outras discutem o som do momento. Elis, Djavan, Cazuza, Bob Marley. Primeira pauta, gostos iguais de amizades sem fim.
- Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não...

Segunda pauta, o amor. Mais complexo. Mais irritante. O assunto mais comprido.
Tensão naquela tarde, conselhos e planos malignos para os próximos dias. Como é engraçado no fim das contas. Uma grita, a outra se derrete, a outra é forte demais e quem sobra já morreu de saudade.
- Quer saber? Quando é assim, deixa vir do coração...

Experiências trocadas, terceira pauta. O mundo gira e não aprendemos tudo. As risadas começam a sair mais soltas, mais profundas. O volume do som já aumenta e nenhuma consegue mais sentar. Os pés iniciam as danças e a tarde já virou noite. As letras das músicas soltam as lembranças.
- Todo dia a insônia me convence que o céu, faz tudo ficar infinito...
E que a solidão é a pretensão de quem fica, escondido fazendo fita...

Embrigadas, de rir, de conversar, de dançar, de ver o dia passar. Embriagadas por culpa das muitas cervejas. Felizes, amigas, sempre bom. Garantia de que não estamos sozinhas. O reggae trás a quarta e última pauta, porque depois dela, só resta cama e ressaca.
- There's a natural mystic Blowing through the air If you listen carefully now you will hear...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009


O que tenho por fora permanece inalterado. Um sorriso estampado no rosto, o corpo sempre se mexendo ao som da música, as palavras bobas soltas involuntariamente... parece felicidade!

Poucos sabem, mas chorei de saudade. Doeu. Chorei ao perceber que nada podia fazer para te ajudar. Agora já era. Você se foi e nem deu brecha para despedidas.

Sei que vou sentir falta das palavras sinceras e inesperadas, dos conselhos, das risadas. Sentirei falta do que fomos um para o outro.
Pai e filha? Irmãos? Amigos? Inexplicável!

Paizão que ganhei, paizão que perdi.

Experiente, mas ainda com muitos momentos para viver e muito tempo para transmitir seus conhecimentos.

Aprendi muito, ri mais ainda. Era a pessoa mais velha que sabia das minhas mais velhas lembranças. O que mais se dedicou à fazer grandes amigos. Um homem que há muito tempo conquistou a admiração de meninos e meninas. E agora deixa saudades!!!

Vou sentir muita falta!
Muita

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


Me entristeceu sem saber e é um segredo nosso.

Você nem sabe porque.

Eu consciente, já é o suficiente.


Carinhos sem troca, beijos sem volta. Sempre você.

O time reserva cancelou todos os jogos. Se quiser, continue jogando sozinho, mas não sei que tática você usará. Se existir um técnico, ignore-o. Ele não poderá fazer nada porque sem adversário não existe jogo. Se um dia quiser uma revanche, me liga. Mas não hoje, não agora. Estou cansada. Talvez até um lance impedido possa ser a bola da vez mas nada poderá ser feito para reverter a situação. Porque você roubou sem querer, o juiz apitou sem saber o que aconteceu na jogada.



Jogos de amor levados a sério respeitam a equipe, o adversário, o campo, as circunstâncias.

Sem isso não existe campeonato.






Acabei de tirar meu time de campo.









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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ele vai...

Confusa com um sorriso de ponta a ponta. Confusão provocada por você que me chama de sua e ri da minha cara. Entro em casa com seu cheiro, entro no banho entorpecida, triste por limpar o meu corpo e feliz por passar a mão nele e lembrar que você o deseja.

Penso em coisas absurdas como sua mão em mim e o seu corpo no meu. Boca, língua, respiração pra lá do além. Quente. Cabeça pulsando pensando em tudo, pensando em nós dois, entrelaçados. Apertos, dores nos lábios, que nunca deveriam ir embora.

Pescoço, sonhos delicados, vulgares, acelerados. Sua mão que me engole, em toda parte. Loucura, fissura, virei maluca, quero isso, quero tudo. Mas não espero nunca. A água cai no meu rosto e eu viajo para longe, para perto, para onde você estava comigo.

Vou repassando todos os detalhes, cada parte, cada gesto. Termino só quando não sobrarem vestígios seus. É assim que tem que ser. Insanidade demais.



Enquanto isso o tempo se vai. Não sei como. Ele vai insconstante, com pontadas angustiantes e calmarias que se arrastam, mas vai. Vai...









Ele vai...

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Eles dois


- Ando preocupado com você.
- Não te acho com cara de quem se preocupa com alguém.
- Não me preocupo com as pessoas em si, mas com certos momentos da vida dos outros...
- Pelo menos assume que se importa com a vida alheia.
- A sua vida me interessa.
- Aonde quer chegar?
- Você perde tempo.
- Eu?
- Sim. Quando não vive do passado, planeja o futuro. E o presente?
- O presente é agora. Estou vivendo...
- Agora pouco você contava casos não terminados. Planejou o carnaval. Mas está aproveitando essa música que toca aqui atrás de nós?
- Talvez.
- Não acho.
- Não me rotule, vai. Viver sem pensar na vida não é viver.
- Pensar é uma coisa. Falar muito é reviver.
- Mas pode ser necessário.
- Eu não gosto.
- Do que?
- Que você fique revivendo certas coisas...
- Sente ciúmes?
- Sim.


Assim, ela o olhou por dois minutos.
Bebeu a segunda dose de conhaque, de uma vez, e o beijou.
Beijo duplo.
Dos mais demorados que aquele casal podia esperar.
Aquilo era um divisor de águas. Ela sabia.
Porque a partir dali, de um jeito ímpar, ele se tornou seu par.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

... Vai sim, vai ser sempre assim.

Vai sim, vai ser sempre assim. A sua presença vai me sufocar.
Vai sim, vai ser sempre assim. A sua falta vai me incomodar.
Já não agüento mais. Vou chorar baixinho pra ninguém ouvir.

Vai sim, vai ser sempre assim. Um pra cada lado, como você quis.
Vai sim, vai ser sempre assim. Vou me acostumar, vou gostar de mim.
Mesmo que eu tenha que mudar de ares ou até mesmo lembranças de lugar.
Vou fugir de tudo, é melhor assim.

O meu olhar ainda vê o seu. Vai me devorando bem devagar.
Quando menos eu espero a saudade vem.
E me dá essa vontade... vem?

Eu ainda sinto frio. Sem você está tudo tão vazio.
Troco todos meus planos.
E me dá essa vontade... vem?

Vai sim, vai ser sempre assim. A sua sombra vai me perturbar.
Vai sim, vai ser sempre assim. A sua voz vai me torturar.
Mesmo que eu tenha que mentir, fingir que estou em paz e ainda sorrir.
Vou segui em frente, sem olhar pra trás.

Vai sim, vai ser sempre assim. As minhas lágrimas vão me consolar.
Vai sim, vai ser sempre assim. Em um relicário vou te colocar.
Sei que aos poucos você sai enfim. Vou sorrir sem medo de você e de mim.

sábado, 24 de janeiro de 2009

A Cerveja e o Vinho

Enquanto entornava a lata suada e a cerveja estupidamente gelada descia pela garganta seca, pensava que alguns amores eram como aquela bebida. Um rompante, um momento. Algo que se bebe rápido e em um só gole. Dois ou três talvez. Mais do que isso é tempo suficiente pra cerveja esquentar. E cerveja choca ninguém bebe. Amor choco ninguém quer.

As grandes paixões são bebidas assim, num só gole. Esvazia-se a lata de uma vez, porque se esquenta, ninguém bebe o resto. Fica ali, aquele fundo de lata que nem é mais tão atraente.

Mas há um outro tipo de amor. Aquele que ele não se permite beber com medo da dor de cabeça no dia seguinte. O amor que é como vinho. Envelhecido em barril de carvalho.

Aquele que fica na estante, numa linda e impecável garrafa que nunca é aberta.

Não falta a ânsia de abri-lo e bebê-lo todo de uma vez, mas a coragem. Uma vez arrancada a rolha, a bebida pode azedar. E ao tirar aquela relíquia da prateleira, corre-se o risco de perder o encanto da sala inteira.

Enquanto ele vira a lata de cerveja barata na sala com os amigos, olha pesaroso para o vinho na estante. Mas é menos trágico perder o fundinho de dezenas de latas a deixar que aquele precioso vinho azede.

Todos os dias, bebem-se muitos amores corriqueiros, com medo de se entorpecer do mais profundo de todos os sentimentos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Reticências...

Ela não queria acreditar


que tudo não passava de dias bons com seqüências frias.

O gelo do depois com a lembrança quente do dia anterior.

Como podia ser sempre assim?

Como podia não receber em troca

o mesmo pensamento, a mesma saudade, o mesmo medo.

Era uma vontade que espanca contra a incerteza que esmaga.

Aumentava o volume do desejo.


Queria escancarar em canais de televisão

como novelas com alto ibope.

Mas não podia, não devia.

Era o passar dos dias com expectativas constantes.


Depois de uma declaração bonita, um soco na cara

e assim ia levando.

Olhava pro computador, mexia nos cabelos, suspirava.

Rotina diária.

Saia, caminhava, cantava, dançava. Beijava.

Se enlouquecia e se aquecia,

com os pensamentos que passavam pela cabeça.

Um monte de coisas, depois de outro encontro.

Constantes encontros, com alguém inconstante.


Difícil.

Aprender com o difícil é mais fácil

Como andar em um labirinto com várias saídas.

O dela podia ter vários finais,

mas só um interessava.


O do beijo interminável.




quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

suspiro.


ignoro teus olhos como todo meu amor - te xingo escondido mas penso no beijo com ardor - te pego sorrindo e não nego que gosto dos dentes daquilo que só eu vejo - te canto te fumo te mostro meu mais tranqüilo toque e mais gentil desejo - te puxo te ensino os passos que mudam que mostram um caminho - no colo te nino te explico o que vejo em mim e em você - te chamo para navegar te mostro que as ondas nos levam para onde devem levar

O céu, de repente, fica azul.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

“Eu me arrumo, eu me enfeito, eu me ajeito. Eu interrogo meu espelho...”

Respiração ofegante, pensamentos arrepiantes.
Mãos trêmulas, olhar brilhante.
Boca seca, entreaberta.
Coração aos pulos, pernas bambas.

Então, já que iam se encontrar começou a se preparar como só se preparam as ondas quando chegam até a areia.


Não era um encontro qualquer, senão o primeiro. E o primeiro encontro, exige arte maior. Pois os que vão ao primeiro encontro também querem pavimentar o caminho do encontrar. Parecia estar mais interessada no pré-encontro que no encontrar.

Sentia a carga daquele momento, quase insuportável. Pensava em detalhes, seu vestido, o perfume. Muita maquiagem? A flor em seu cabelo. Era tanto esmero.
Era adulta, mas parecia ter dezesseis anos.


Há quem diga que a vida é a arte do encontro embora haja tantos desencontros. E há também a mística do primeiro encontro. E o primeiro é tão complexo e interminável, que pode ele se dar do décimo quinto ou trinta anos depois. É imensurável o que cada um quer receber e o quanto quer se dar.

Naquela esquina, um velho bar. Teu jeito displicente de andar, bagunçando os cabelos enquanto caminhava em minha direção.

Meu pensamento voa longe enquanto você vai me contando histórias. Te dou sorrisos fáceis, você segura minha mão. Eu brinco com seu cabelo, sua mão em meu joelho.

A troca de olhares e você me beija. Eu te beijo, você me abraça. Cheguei em casa e senti teu perfume grudado em mim. Nem quis acreditar na solidão e nem demais em nós dois, pra não encanar.

Eu sei que jogos de amor são para se jogar, sem regras ou juiz. Mas se você lembrar, se quiser jogar, me liga?

Podem ser os desencontros esboços do autêntico encontro. O ideal é que todo encontro fosse o primeiro encontro.

E já disse Pablo Neruda: "E aquela vez foi como nunca e sempre: vamos ali onde não espera nada e achamos tudo o que está esperando".

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Espera

Entre ligar e esperar, prefiro a espera, essa que faz o tempo parar num inconstante calejar do peito. Olho para minhas mãos, jogo os cabelos para trás, assisto a vida familiar entre churrascos e cervejas de domingo, mas penso longe.

[queria seus olhos aqui, mas meus olhos estão distantes.
tua pele combina com a minha, tua boca é profunda como esses olhos que não querem me ver. Como o meu corpo que chama o teu. Como a minha língua que queima, mas muito mais quando encosta na tua.]

de repente me dou conta que a chuva torrencial de verão que cai lá fora, também pode ser o oposto, como um sinal de fogo.

[é a natureza gritando, por mim, por você.]

enquanto ela grita, eu continuo esperando e me deliciando.