Site Meter Projeto Modes - Encheu? Joga Fora!: agosto 2009

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Prozac - Capítulo II

Ela ficou por alguns instantes ali parada, como se pudesse advinhar. Logo, voltou a dizer:
- Amor, cheguei.
Mais silêncio.
Foi em direção ao quarto, abriu a porta de sopetão. Nada. Cama arrumada, como a empregada deixou pela manhã, camisa limpa e passada na cadeira, ainda sem usar. No banheiro, o barbeador em cima da pia, como na noite anterior. Na cozinha, um prato sujo sob a mesa e uma lata de cerveja vazia.
- Filho da puta.

*

Ele foi embora. Preferiu deixar tudo como estava, inclusive a vida extraconjugal da mulher. Prefere não brigar, não argumentar e seguiu firme em recomeçar uma vida que, de fato, nunca havia começado pra ele. Levou consigo apenas algumas mudas de roupa. O resto ficou para que ela não fuja da presença dele. Tão cedo.

Rosana chorou.
Chorou porque ele não se importou. Chorou pela indiferença. Chorou porque não houve uma palavra, insulto, ou drama hollywoodiano. Muito menos tapa na cara. Ódio e amor são sentimentos que se completam, pensou ela.
Ela queria indignação, uma promessa de que ele a abandonaria para sempre, gritos e palavrões. Ela não tinha nem o que merecia, por natureza, frente ao romance barato.
Sim, Rosana.
Ele se foi, deixando a vida toda ali para que você pense que ele volte um dia.
Mas não. Esse não volta mais.

Tomou um Prozac. Se perdeu ao tentar construir a desculpa que daria a toda sua família e o que faria dali pra frente. Preferiu antes ligar ao amante.
- Edson, tenho muito a falar com você.
- Oi, Moreira. Estou no ballet da Bianca. Te ligo semana que vem, marcamos um almoço, ok?

Sentiu um peso nas costas.
22 de julho e começa o inverno. Um frio inédito pra ela.
Longo, vai durar até meados da primavera.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Amigos de aluguel

Eu sou uma pessoa que dá muito valor aos amigos. Amigo pra mim é muito mais que pessoas que você conhece para dividir alegrias e problemas.
Pra mim, os amigos são a família que Deus nos permitiu escolher e eles sempre estiveram presentes na minha vida e em muitos momentos, bem mais do que meus próprios pais.
Por eles dedico tempo, amor, solidariedade, carinho e o melhor de mim, e também usufruo do conforto da companhia, dos momentos felizes e dos seus ombros pra chorar meus medos, problemas e angustias.

Numa conversa descomprometida com uma amiga muito querida, descobri algo trágico, medonho e diferente. Na verdade, não sei como qualificar nem adjetivar isso.
O site -
www.amigosdealuguel.com.br – basicamente aluga amigos; é isso mesmo.
Estou pasma e boquiaberta em pensar para onde a humanidade está caminhando, o quanto o capital está tomando conta das nossas vidas. Daqui a pouco não existirão mais amizades sinceras, ombros amigos para chorar (será que até a amizade vai virar um bem de consumo?).
E me pergunto: quanto será que custa um amigo? – mesmo por algumas horas- Sim. Porque minhas amizades, não há dinheiro no mundo que pague.

O site diz: “Seus amigos de emergência”, e mais: “Para você que precisa de Companhia para Festas, Eventos, Almoço/Jantar, Compras e até mesmo para Conversar”.
Então, não preciso conquistar mais ninguém, reconhecer um companheiro, cultivar uma amizade, posso como tudo na vida moderna, não pensar jamais no coletivo, só no individual e se um dia eu me sentir sozinha, eu alugo um amigo.

Que caos que está se tornando as relações humanas em prol do interesse financeiro! Ainda preciso de um tempo para assimilar essa novidade. E achar uma saída para me preservar de tudo isso sem colocar em cheque a minha sobrevivência que se torna a cada dia mais difícil.


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Apesar de tudo.

Apesar de tudo, aquela casa ainda me trazia boas lembranças.
O cheiro, as cores frias, o azulejo da cozinha antiga e os móveis em tom pastel.


Passei por tanto ali, minhas vontades eram diferentes a cada cômodo.

Estrepei-me com tombos nas escadas e corri em busca de um futuro nos jardins em torno dela. Agora compreendo.


Meu mural de fotos permanecia intacto. Fotografias velhas e repletas de verdades, de tudo que se passou com ela, com ele, com você e com a gente. A gente.
Simples assim.

Minha memória ainda é boa.

Voltar traz à tona milhões de questionamentos, de saudade matada até a pressa de libertar tudo aquilo que deixei trancado no baú do quarto com chão de giz.
A fumaça que saia do cigarro e ia embora pela janela confirma o medo constante de ouvir uma música, de comer um chocolate, ou de usar um belo vestido em noite especial. Por ser bom e não ser pra sempre.


"É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama"



Respirei. Senti mais uma vez o ambiente.
Eu vivi tudo aquilo que podia ali, estava tudo guardado em cada parte.

"No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto"


Estiquei a colcha da cama.

Foi o último minuto.







com pitadas de Fernanda Doniani.


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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Para falar das flores


Quase quatro dias
Mais de quatrocentas mil pessoas
Quarenta anos se passaram

A mais perfeita definição de sexo, drogas e rock´n´roll.
O melhor evento da paz e do amor,
dentro da efervescência política sessentista.


Antagonismo do século 20 em forma de cabelão e LSD.
Porque cada um sabe a melhor forma de lutar contra a guerra.
Mesmo que seja não falando dela.
Natureza, guitarra;
Jovens e flores.

Muitas delas.

Um festival sem planejamento, pra compensar o último ano de Janis e Hendrix.


Santana ta de prova.