Site Meter Projeto Modes - Encheu? Joga Fora!: julho 2009

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Rosana, 36, adúltera e profana - Capítulo I

Se encontram sempre às terças. Toda semana, pontualmente. Caso haja atraso, chega para ele o SMS “entrega será feita após o horário, sr Edson”. Por ele, nem torpedos deveriam existir, mas ela, como boa libriana metódica, precisa explicar exatamente cada mudança de plano. Ou talvez se divirta com pseudônimos.
Assim, naquela terça-feira fria de fim de junho ela encerrava o expediente mais tarde e despachava os emails finais. Um último, breve, ao marido: Amor, não se esqueça que hoje é dia do meu curso, chego depois das 22h.
Vestiu o casaco, cachecol e entrou no carro. Trânsito paulistano, saia até os joelhos, meia fio 40 e scarpin. Cinco cigarros depois ela chega ao restaurante. Ele, inquieto, acena e se aproxima rapidamente. A interrompe com um beijo: “vamos logo?”.
Entram no carro dele.

Ele (camisa e calça jeans) não é uma pessoa de muitas palavras. Não gosta de contar o dia, nem comentar a semana ou opinar política. Ela, que só fala de política, despeja nele toda sua vida e frequentemente um punhado de reclamações. Quase um monólogo. Não por achá-lo o melhor ouvinte, mas por não ter outra opção. Como uma necessidade em desabafar, típica de quem não sabe prender palavras. Mas ele não liga, aliás, nem se importa - já que não absorve nenhuma informação que venha dela. Na verdade a julga muito pouco politizada e ri da maneira como ela repete frases famosas fingindo ser de sua própria conclusão. No entanto, para ele há um golpe fatal: Rosana, 36, é muito atraente. Demais e além do que o seu orgulho gostaria que fosse.

Pois assim, seguem o trajeto daquela terça, que começava a garoar.
Adentram o motel, que é o mesmo desde o primeiro encontro. Um pouco mais caro do que ele pode pagar; um pouco mais barato do que ela gostaria de frequentar.
O tempo sempre passa rápido, afinal, o único sentimento que talvez paire exatamente neles é a emergência. E viver o momento com rapidez e precisão é vê-lo voar. Sabem que precisam daquele instante e aprenderam a se completar, dessa forma.
Típico caso extraconjugal.

Mas eles não têm competência para o adultério, e isso não vai tardar a preocupá-los. Às 23h55, ela volta pra casa. Enquanto sobe as escadas se lembrou da história de uma estagiária e se sentiu bem por ter naquele instante a mesma sensação adolescente que ela. Percebeu, porém, o perfume dele ainda entrelaçado em sua roupa. Sorriu.
Pendurou o casaco.
- Amor, cheguei!
.

.

.


Só que nessa terça, Rosana, ninguém respondeu.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Raízes de uma árvore.

Sentou entre os galhos secos da árvore preferida e abriu seu livro. Pensou com carinho no presente da amiga, que tinha gostado tanto. Abriu na página 53 e se perdeu entre as linhas.

Uma história tão próxima, pensou.
Vagando pelas páginas, já não estava mais atenta aos parágrafos, sentia-se sonolenta. Queria dormir profundamente, mas sua mãos buscavam algo. Pegou o celular. Em um minuto mandou a mensagem.

- Ow, tá fazendo o que?

Acendeu um cigarro com o contraste de céu e mar.

- Nada e vc?
- Nada tbm. Me encontra no Vila?
- Oks.

Deu uma esticada nas pernas. Andava tão distraída nos últimos dias, que até seus causos mal resolvidos haviam se perdido entre as frases com as amigas.

- Ô, e ai, tudo bem?
- Tudo nega e você?
- Bem também.

A profundidade dos passos até o bar era tão forte que a conversa não tinha início. Pensava em como iam trocar os rumos, se os caminhos eram sempre os mesmos.

- Puta, encontrei a Lú esses dias, está diferente né?
- Ah é, nunca mais vi... Diferente por quê?
- Ah, sei lá... Sumiu de uma hora pra outra... Mudou, saca? Não é mais a mesma.
- É assim mesmo. Namoro, trampo, rotina. Vai ser assim com todo mundo.
- Eu não quero.
- Pelo menos a Ná não mudou.
- É mesmo. E ainda bem que tenho certeza que você não vai mudar também.
- Churrascos de galera antiga e nossos filhos amigos.

Sentaram em meio ao barzinho aconchegante. Tocava uma música boa. Era sempre com ritmo a tranqüilidade dos casos e acasos. Discutiam as versões da canção enquanto o suor da cerveja caía pelo copo americano.

- Nossa. Liga pra Carola, a música dela tá tocando.
- Alô, ô, tamo no Vila, vem aqui.
- Beleza. Tô no maior tédio.

Ela sempre vinha com aquela cara de “ai, amo vocês”. Isso fazia bem. As conversas começavam a sair de forma descontrolada. Risadas. Pede mais uma.

- Alô. Oi Ná! Puta, acabou de tocar La Belle De Jour!
- Onde cê tá?
- No Vila com as meninas.
- O neguinho tá dormindo. Vou praí.

Para ela as coisas eram tão mais simples, mesmo não sendo na maioria das vezes.
A leonina era o oposto, acho que por isso a amizade mais velha durava.
“Não quero beber o teu café pequeno”

- Aiii adoro! “Não quero medir a altura do tombo, nem passar agosto esperando setembro”.

Ali se iniciavam as filosofias de boteco. Sábado à noite, o céu estava estrelado àquelas horas. A bandinha tocava para poucos gatos pingados naquele fim de semana praiano de um julho gelado. Mas estavam ali, relembrando, fazendo planos, falando dos sumidos e lembrando dos moles aparecidos.

- Lembra quando fugimos do vô? Fedô se estivesse junto teria curtido.
- Claro, tínhamos 15 ou 16 e muita vida pela frente. Época boa viu.
- Eu teria tropeçado certeza.
- Nossa, eu também teria tropeçado certeza.
- Você é uma idiota.
- Oi lindas, vocês são de onde?
(ai, quem é esse bebasso?)

Depois de umas frases mal trocadas, se viram livres.
Duas, três da manhã.
Com passos miúdos voltavam pra casa de praia com míseros centavos no bolso. As ruas mal iluminadas davam a sensação de caminharem a esmo, só com elas mesmo.
Algumas risadas noturnas no silêncio do quarto e uma a uma, foram pegando no sono.
Sonharam com momentos distantes, formaturas, histórias contadas, choros em conjunto.
Aonde suas vidas iam parar?

- Gente, tão acordadas?
- Aham...
- Não...
- Vamos pra praia?
- A Mari tá vindo, pegando estrada. Fala pra ela comprar xampu que acabou.
- Alô, Maricota, compra xampu?
- Já comprei né, sabia que você ia esquecer.



Especiais porque sabem que conhecer bem é possível.
Que confiança existe.
E que o presente, será pra sempre um futuro amigo.



...

Sentou entre os galhos secos da árvore preferida e abriu seu livro. Pensou com carinho no presente da amiga, que tinha gostado tanto. Abriu na página 53 e se perdeu entre as linhas. Uma história tão próxima, pensou.
Vagando pelas páginas, já não estava mais atenta aos parágrafos, sentia-se sonolenta. Queria dormir profundamente, mas sua mãos buscavam algo. Pegou o celular. Em um minuto mandou a mensagem.


- Ow, tá fazendo o que?


Acendeu um cigarro com o contraste de céu e mar.


- Nada e vc?
- Nada tbm. Me encontra no Vila?
- Oks.


Deu uma esticada nas pernas. Andava tão distraída nos últimos dias, que até seus causos mal resolvidos haviam se perdido entre as frases com as amigas.



- Ô, e ai, tudo bem?
- Tudo nega e você?
- Bem também.

A profundidade dos passos até o bar era tão forte que a conversa não tinha início. Pensava em como iam trocar os rumos, se os caminhos eram sempre os mesmos.

- Puta, encontrei a Lú esses dias, está diferente né?
- Ah é, nunca mais vi... Diferente por quê?
- Ah, sei lá... Sumiu de uma hora pra outra... Mudou, saca? Não é mais a mesma.
- É assim mesmo. Namoro, trampo, rotina. Vai ser assim com todo mundo.
- Pois é.
- Pelo menos a Ná não mudou.
- É mesmo. E ainda bem que tenho certeza que você não vai mudar também.
- Churrascos de galera antiga e nossos filhos amigos.


Sentaram em meio ao barzinho aconchegante. Tocava uma música boa. Era sempre com ritmo a tranqüilidade dos casos e acasos. Discutiam as versões da canção enquanto o suor da cerveja caía pelo copo americano.

- Nossa, que lama. Liga pra Carola, a música dela tá tocando.
- Alô, ô, tamo no Vila, vem aqui.
- Oks. Tô no maior tédio.

Ela sempre vinha com aquela cara de “ai, amo vocês”. Isso fazia bem. As conversas começavam a sair de forma descontrolada. Risadas. Pede mais uma.

- Alô. Oi Ná! Puta, acabou de tocar La Belle De Jour!
- Onde cê tá?
- No Vila com as meninas.
- O neguinho tá dormindo. Vou praí.

Para ela as coisas eram sempre resolvidas com calma. A leonina era o oposto do meu ser, acho que por isso a amizade mais velha durava.
“Não quero beber o teu café pequeno”

- Aiii adoro! “Não quero medir a altura do tombo, nem passar agosto esperando setembro”.

Ali se iniciavam as filosofias de boteco. Sábado à noite, o céu estava estrelado àquelas horas. A bandinha tocava para poucos gatos pingados, naquele fim de semana praiano de um julho gelado. Mas estavam ali, relembrando, fazendo planos, falando dos sumidos e lembrando dos moles aparecidos.

- Lembra quando fugimos do vô? Fedô se estivesse junto teria curtido.
- Claro, tínhamos 15 ou 16 e muita vida pela frente. Época boa viu.
- Eu teria tropeçado certeza.
- Nossa, eu também teria tropeçado certeza.
- Você é uma idiota.
- Oi lindas, vocês são de onde?
(ai, quem é esse bebasso?)

Depois de umas frases mal trocadas, se viram livres.
Duas, três da manhã.
Com passos miúdos voltavam pra casa de praia com míseros centavos no bolso. As ruas mal iluminadas davam a sensação de caminharem a esmo, só com elas mesmo.
Algumas risadas noturnas no silêncio do quarto e uma a uma, foram pegando no sono.
Sonharam com momentos distantes, formaturas, histórias contadas, choros em conjunto.
Aonde suas vidas iam parar?

- Gente, tão acordadas?
- Aham...
- Não...
- Vamos pra praia?
- A Mari tá vindo, pegando estrada. Fala pra ela comprar xampu que acabou.
- Alô, Maricota, compra xampu?
- Já comprei né, sabia que você ia esquecer.

Especiais porque sabem que conhecer bem é possível.
Que confiança existe.
E que o presente, será pra sempre um futuro amigo.