Site Meter Projeto Modes - Encheu? Joga Fora!: janeiro 2009

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Eles dois


- Ando preocupado com você.
- Não te acho com cara de quem se preocupa com alguém.
- Não me preocupo com as pessoas em si, mas com certos momentos da vida dos outros...
- Pelo menos assume que se importa com a vida alheia.
- A sua vida me interessa.
- Aonde quer chegar?
- Você perde tempo.
- Eu?
- Sim. Quando não vive do passado, planeja o futuro. E o presente?
- O presente é agora. Estou vivendo...
- Agora pouco você contava casos não terminados. Planejou o carnaval. Mas está aproveitando essa música que toca aqui atrás de nós?
- Talvez.
- Não acho.
- Não me rotule, vai. Viver sem pensar na vida não é viver.
- Pensar é uma coisa. Falar muito é reviver.
- Mas pode ser necessário.
- Eu não gosto.
- Do que?
- Que você fique revivendo certas coisas...
- Sente ciúmes?
- Sim.


Assim, ela o olhou por dois minutos.
Bebeu a segunda dose de conhaque, de uma vez, e o beijou.
Beijo duplo.
Dos mais demorados que aquele casal podia esperar.
Aquilo era um divisor de águas. Ela sabia.
Porque a partir dali, de um jeito ímpar, ele se tornou seu par.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

... Vai sim, vai ser sempre assim.

Vai sim, vai ser sempre assim. A sua presença vai me sufocar.
Vai sim, vai ser sempre assim. A sua falta vai me incomodar.
Já não agüento mais. Vou chorar baixinho pra ninguém ouvir.

Vai sim, vai ser sempre assim. Um pra cada lado, como você quis.
Vai sim, vai ser sempre assim. Vou me acostumar, vou gostar de mim.
Mesmo que eu tenha que mudar de ares ou até mesmo lembranças de lugar.
Vou fugir de tudo, é melhor assim.

O meu olhar ainda vê o seu. Vai me devorando bem devagar.
Quando menos eu espero a saudade vem.
E me dá essa vontade... vem?

Eu ainda sinto frio. Sem você está tudo tão vazio.
Troco todos meus planos.
E me dá essa vontade... vem?

Vai sim, vai ser sempre assim. A sua sombra vai me perturbar.
Vai sim, vai ser sempre assim. A sua voz vai me torturar.
Mesmo que eu tenha que mentir, fingir que estou em paz e ainda sorrir.
Vou segui em frente, sem olhar pra trás.

Vai sim, vai ser sempre assim. As minhas lágrimas vão me consolar.
Vai sim, vai ser sempre assim. Em um relicário vou te colocar.
Sei que aos poucos você sai enfim. Vou sorrir sem medo de você e de mim.

sábado, 24 de janeiro de 2009

A Cerveja e o Vinho

Enquanto entornava a lata suada e a cerveja estupidamente gelada descia pela garganta seca, pensava que alguns amores eram como aquela bebida. Um rompante, um momento. Algo que se bebe rápido e em um só gole. Dois ou três talvez. Mais do que isso é tempo suficiente pra cerveja esquentar. E cerveja choca ninguém bebe. Amor choco ninguém quer.

As grandes paixões são bebidas assim, num só gole. Esvazia-se a lata de uma vez, porque se esquenta, ninguém bebe o resto. Fica ali, aquele fundo de lata que nem é mais tão atraente.

Mas há um outro tipo de amor. Aquele que ele não se permite beber com medo da dor de cabeça no dia seguinte. O amor que é como vinho. Envelhecido em barril de carvalho.

Aquele que fica na estante, numa linda e impecável garrafa que nunca é aberta.

Não falta a ânsia de abri-lo e bebê-lo todo de uma vez, mas a coragem. Uma vez arrancada a rolha, a bebida pode azedar. E ao tirar aquela relíquia da prateleira, corre-se o risco de perder o encanto da sala inteira.

Enquanto ele vira a lata de cerveja barata na sala com os amigos, olha pesaroso para o vinho na estante. Mas é menos trágico perder o fundinho de dezenas de latas a deixar que aquele precioso vinho azede.

Todos os dias, bebem-se muitos amores corriqueiros, com medo de se entorpecer do mais profundo de todos os sentimentos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Reticências...

Ela não queria acreditar


que tudo não passava de dias bons com seqüências frias.

O gelo do depois com a lembrança quente do dia anterior.

Como podia ser sempre assim?

Como podia não receber em troca

o mesmo pensamento, a mesma saudade, o mesmo medo.

Era uma vontade que espanca contra a incerteza que esmaga.

Aumentava o volume do desejo.


Queria escancarar em canais de televisão

como novelas com alto ibope.

Mas não podia, não devia.

Era o passar dos dias com expectativas constantes.


Depois de uma declaração bonita, um soco na cara

e assim ia levando.

Olhava pro computador, mexia nos cabelos, suspirava.

Rotina diária.

Saia, caminhava, cantava, dançava. Beijava.

Se enlouquecia e se aquecia,

com os pensamentos que passavam pela cabeça.

Um monte de coisas, depois de outro encontro.

Constantes encontros, com alguém inconstante.


Difícil.

Aprender com o difícil é mais fácil

Como andar em um labirinto com várias saídas.

O dela podia ter vários finais,

mas só um interessava.


O do beijo interminável.




quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

suspiro.


ignoro teus olhos como todo meu amor - te xingo escondido mas penso no beijo com ardor - te pego sorrindo e não nego que gosto dos dentes daquilo que só eu vejo - te canto te fumo te mostro meu mais tranqüilo toque e mais gentil desejo - te puxo te ensino os passos que mudam que mostram um caminho - no colo te nino te explico o que vejo em mim e em você - te chamo para navegar te mostro que as ondas nos levam para onde devem levar

O céu, de repente, fica azul.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

“Eu me arrumo, eu me enfeito, eu me ajeito. Eu interrogo meu espelho...”

Respiração ofegante, pensamentos arrepiantes.
Mãos trêmulas, olhar brilhante.
Boca seca, entreaberta.
Coração aos pulos, pernas bambas.

Então, já que iam se encontrar começou a se preparar como só se preparam as ondas quando chegam até a areia.


Não era um encontro qualquer, senão o primeiro. E o primeiro encontro, exige arte maior. Pois os que vão ao primeiro encontro também querem pavimentar o caminho do encontrar. Parecia estar mais interessada no pré-encontro que no encontrar.

Sentia a carga daquele momento, quase insuportável. Pensava em detalhes, seu vestido, o perfume. Muita maquiagem? A flor em seu cabelo. Era tanto esmero.
Era adulta, mas parecia ter dezesseis anos.


Há quem diga que a vida é a arte do encontro embora haja tantos desencontros. E há também a mística do primeiro encontro. E o primeiro é tão complexo e interminável, que pode ele se dar do décimo quinto ou trinta anos depois. É imensurável o que cada um quer receber e o quanto quer se dar.

Naquela esquina, um velho bar. Teu jeito displicente de andar, bagunçando os cabelos enquanto caminhava em minha direção.

Meu pensamento voa longe enquanto você vai me contando histórias. Te dou sorrisos fáceis, você segura minha mão. Eu brinco com seu cabelo, sua mão em meu joelho.

A troca de olhares e você me beija. Eu te beijo, você me abraça. Cheguei em casa e senti teu perfume grudado em mim. Nem quis acreditar na solidão e nem demais em nós dois, pra não encanar.

Eu sei que jogos de amor são para se jogar, sem regras ou juiz. Mas se você lembrar, se quiser jogar, me liga?

Podem ser os desencontros esboços do autêntico encontro. O ideal é que todo encontro fosse o primeiro encontro.

E já disse Pablo Neruda: "E aquela vez foi como nunca e sempre: vamos ali onde não espera nada e achamos tudo o que está esperando".

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Espera

Entre ligar e esperar, prefiro a espera, essa que faz o tempo parar num inconstante calejar do peito. Olho para minhas mãos, jogo os cabelos para trás, assisto a vida familiar entre churrascos e cervejas de domingo, mas penso longe.

[queria seus olhos aqui, mas meus olhos estão distantes.
tua pele combina com a minha, tua boca é profunda como esses olhos que não querem me ver. Como o meu corpo que chama o teu. Como a minha língua que queima, mas muito mais quando encosta na tua.]

de repente me dou conta que a chuva torrencial de verão que cai lá fora, também pode ser o oposto, como um sinal de fogo.

[é a natureza gritando, por mim, por você.]

enquanto ela grita, eu continuo esperando e me deliciando.