Site Meter Projeto Modes - Encheu? Joga Fora!: março 2009

segunda-feira, 30 de março de 2009

DISRITMIA


Por tudo aquilo que pensara recentemente, foi tão dura.
Porque sabe que no fim tudo fica melhor, embora ainda estivesse no começo.
“São como ciclos. Ora bem, ora ruim”, ouviu de alguém com pouco mais de 20 anos e algumas histórias pra contar.
Será que é um sinal de que ainda há o que aprender?

Ela não sabe.

Numa moldura simples, como tela de papel e aquarela, ela se expõe entre as belezas de tinta à óleo.
Se destaca?

Ela não sabe.

Ora sente bem, ora ruim.
Ela também é um ciclo (chegara a conclusão).
Mas de que adiantam os bares se a vida noturna deixa, junto com o troco amassado, tudo igual?
Ela não sabe.

A rapidez dos fatos e pequenas escolhas bifurcam um destino.
Destino que podia ser planejado, vivido com calma. E talvez compartilhado.
Mas não. Tudo faz parte de uma eterna disritmia.

E isso... isso ela sabe.



terça-feira, 24 de março de 2009

Lições da infância


Tinha por volta dos 11 anos e desde sempre quis uma Barbie, eu tinha primas que tinham e isso me deixava muito triste. Por que triste? Porque eu pertencia a uma dessas famílias brasileiras que vivem com um salário mínimo, 3 filhos e a mãe com uma saúde muito frágil. Era exatamente isso, eu não entendia na época, hoje eu penso no que meu pai passava para nos sustentar. Bom, a questão é como eu consegui minha primeira Barbie (a Tânia), esse era o nome dela. Eu achava esse nome lindo! Ela era jornalista e uma mulher muito bem sucedida, assim como me considero hoje.
Minha mãe deu em um brechó da cidade seu vestido de noiva, sua maior relíquia em troca da boneca, eu estava doente e ela temia que fosse pelo desejo de ter a Barbie.
A Tânia veio embrulhada num papel de pão, com uma roupinha humilde sem sapatos e com o cabelo cortado, sua antiga dona não a amava tanto e tosou o cabelo da coitada. Vale falar que o cabelo e as roupas das Barbies são o que elas têm de mais encantador, mas a Tânia não tinha nem cabelo nem roupa bonita. Ela era morena, tinha um mecha loira. E foi com ela que aprendi a ser uma mulher de verdade, pois as mulheres não nascem lindas, elas tem que se moldar. Nossos cabelos nunca estão como queremos e nunca temos todas as roupas e sapatos que desejamos. Toda noite eu amarrava um elástico na testa da Tânia pro cabelinho dela abaixar, pois era muito curto e armava pra cima, isso mantinha o cabelo dela pra baixo, e ela podia ser linda e glamorosa o dia todo na sua vida corrida de repórter. O namorado da Tânia era um pente da altura dela, os copos da Tânia eram as tampinhas de pasta de dente que eu roubava da casa das pessoas que meu pai ia visitar no fim de semana.
Minha casa era em uma vila, portas e janelas abertas para outras portas e janelas, separadas por um estreito corredor de cimento. No relevo acidentado da cidade sul mineira, a vila ficava em um nível bem abaixo da rua. Eram dezenove degraus para dar o ar da graça a outros vizinhos e ao leiteiro todo dia de manhã.
Minha protegida Barbie tinha um apartamento lindo, uma cobertura exatamente no último degrau, onde ela poderia sair na sacada e ver o Cristo Redentor – era o Cristo de Poços – mas a Tânia era carioca da gema e morava em Copacabana.
Logo em seguida comecei a trabalhar, não tive mais tempo para sonhar com meu futuro brilhante. A Tânia ganhou lindas roupas, resultado dos meus tostões semanais. Por isso ela me ensinou outra lição, dinheiro ou felicidade. Ela se tornou elegante, rica, porém infeliz, porque ficou largada num canto do meu guarda-roupa. Admiro muito a minha Barbie Tânia e agradeço por tudo que essa imagem de mulher perfeita trouxe pra mim.

quinta-feira, 19 de março de 2009

sincopado.


Te pego qualquer hora pra fugir daqui e consigo seus olhos que dizem que sim com a força e aquela vontade que eu sinto depois de um sábado que poderia ter sido de outro jeito. Sem vestígios. Percebo que aqueles rompantes de raiva e frio e medo vão embora junto com os copos de cerveja que tiraram a minha sede e trouxeram uma embriaguez desejada. Junto tudo num potinho de coisas que vão me trazer o desencanado que quero. Ligo, saio, vou embora, vou pro frio, vou pra longe com sonhos que tenho quando durmo e que continuam quando acordo. O que é nosso está guardado em mim, mas meu corpo não responde para tais expectativas.
Depois disso, começo. Fumo o que me agrada, bebo o que me sustenta e a risada sai despercebida em ruas e bares longínquos. Vejo seu vulto de longe, mas é só o vulto, como tem que ser. Procuro minhas chaves, meu relógio que atraso para sua hora não chegar. Peço outra cerveja. Minha respiração já parece lenta perto das horas anteriores. Mesmo sem querer, busco teu carro em faróis distantes e fico puta porque percebo que te quero. E quero mesmo, sem teorias de um futuro bom ou de um lance concreto. Grito por dentro e mando à merda tudo que vagueia por dentro e por fora, como vozes dos outros ou meus pensamentos idiotas. Nem tudo deve ser levado a sério, só as lembranças de bons momentos. O som do junkie Box me relaxa, talvez pela esperança que a madrugada traz fazendo-me esperar por ti.




Ela vivia me prometendo algum tipo de fuga, sem data marcada, sem plano traçado, sem google maps e premeditações de qualquer tipo. Eu fingia acreditar e contava algumas histórias de livros como se fossem minhas. Minha visão se dividia entre seu rosto e o horizonte enquanto dirigia sempre pelo mesmo caminho para deixá-la em casa e, ligeiramente embriagado pela última rodada de brahma e por alguma felicidade piegas, pegava o caminho de volta para o lar doce lar com o som no último volume cantando algum folk lento e leve. Às vezes a gente se perdia e se encontrava pelas mesmas ruas. Como naquela terça em que eu bebia com alguns amigos quando te vi passar e apenas ignorei. Estava de costas e podia sentir seus olhos, a dúvida. Não comentei nada. Talvez eu só estivesse bêbado demais pra te ver em qualquer lugar.
E eu preferia, naquela hora, não lembrar que estava me deixando levar desse jeito, embora sempre tivesse sido um adepto da vida sem rumos. Na teoria.
Então eu ligava e marcávamos alguma coisa. Eu chegava sempre atrasado, você na terceira cerveja e eu ainda sóbrio e um tanto sem graça, deixando o medo segurar um pouco as palavras e as intenções. Encho meu copo lentamente, olho pra cerveja que preenche o vazio, olho pra você, vazio, cheio. Transborda. Transborda e quando vejo já estamos num beijo com álcool com afeto e a noite parece marcar a hora zero.









































em parceria com Luciano Costa.






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