Site Meter Projeto Modes - Encheu? Joga Fora!: Lições da infância

terça-feira, 24 de março de 2009

Lições da infância


Tinha por volta dos 11 anos e desde sempre quis uma Barbie, eu tinha primas que tinham e isso me deixava muito triste. Por que triste? Porque eu pertencia a uma dessas famílias brasileiras que vivem com um salário mínimo, 3 filhos e a mãe com uma saúde muito frágil. Era exatamente isso, eu não entendia na época, hoje eu penso no que meu pai passava para nos sustentar. Bom, a questão é como eu consegui minha primeira Barbie (a Tânia), esse era o nome dela. Eu achava esse nome lindo! Ela era jornalista e uma mulher muito bem sucedida, assim como me considero hoje.
Minha mãe deu em um brechó da cidade seu vestido de noiva, sua maior relíquia em troca da boneca, eu estava doente e ela temia que fosse pelo desejo de ter a Barbie.
A Tânia veio embrulhada num papel de pão, com uma roupinha humilde sem sapatos e com o cabelo cortado, sua antiga dona não a amava tanto e tosou o cabelo da coitada. Vale falar que o cabelo e as roupas das Barbies são o que elas têm de mais encantador, mas a Tânia não tinha nem cabelo nem roupa bonita. Ela era morena, tinha um mecha loira. E foi com ela que aprendi a ser uma mulher de verdade, pois as mulheres não nascem lindas, elas tem que se moldar. Nossos cabelos nunca estão como queremos e nunca temos todas as roupas e sapatos que desejamos. Toda noite eu amarrava um elástico na testa da Tânia pro cabelinho dela abaixar, pois era muito curto e armava pra cima, isso mantinha o cabelo dela pra baixo, e ela podia ser linda e glamorosa o dia todo na sua vida corrida de repórter. O namorado da Tânia era um pente da altura dela, os copos da Tânia eram as tampinhas de pasta de dente que eu roubava da casa das pessoas que meu pai ia visitar no fim de semana.
Minha casa era em uma vila, portas e janelas abertas para outras portas e janelas, separadas por um estreito corredor de cimento. No relevo acidentado da cidade sul mineira, a vila ficava em um nível bem abaixo da rua. Eram dezenove degraus para dar o ar da graça a outros vizinhos e ao leiteiro todo dia de manhã.
Minha protegida Barbie tinha um apartamento lindo, uma cobertura exatamente no último degrau, onde ela poderia sair na sacada e ver o Cristo Redentor – era o Cristo de Poços – mas a Tânia era carioca da gema e morava em Copacabana.
Logo em seguida comecei a trabalhar, não tive mais tempo para sonhar com meu futuro brilhante. A Tânia ganhou lindas roupas, resultado dos meus tostões semanais. Por isso ela me ensinou outra lição, dinheiro ou felicidade. Ela se tornou elegante, rica, porém infeliz, porque ficou largada num canto do meu guarda-roupa. Admiro muito a minha Barbie Tânia e agradeço por tudo que essa imagem de mulher perfeita trouxe pra mim.

3 comentários:

Anônimo disse...

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Eduardo Araújo disse...

Acho que é a hora de dar uma volta por aí com a Tânia...

=)

Como se desintoxicar do homem errado disse...

Janna minha amiga, primeiramente, quero dizer que até chorei com seu artigo.... A minha história foi parecida...entre trancos e barrancos minha mãe me deu a Barbie Passeio, morena. Eu aprendi a costurar fazendo roupas para a minha barbie. Eu também fazia a mesma coisa que você...pegar as tampinhas da pasta de dente. Achei que eu era a única pessoa no mundo a fazer isso kkk. . Ela ao contrário de Tânia, mora comigo em Copacabana no Rio de Janeiro e fica num lugar de destaque dentro do guarda-roupa junto com os perfumes, acredita? Também agradeço por tudo que essa imagem de mulher perfeita trouxe pra mim. Beijocas enormes e sucesso. Si