Site Meter Projeto Modes - Encheu? Joga Fora!: abril 2010

domingo, 25 de abril de 2010

Mudanças - Capítulo IV

O celular tocou uma hora mais cedo, propositalmente. Ela abriu os olhos e se deparou com ele, ainda na mesma posição de quando se deitou. Cabeça apertando o travesseiro, a boca um pouco aberta, numa respiração que mais parece um assovio, e a mão direita imóvel em cima da própria barriga. Reparou na semelhança que todos os homens têm ao dormir pesadamente e, sem saber por que, se lembrou de um fim de tarde em Itacaré, lá pros seus 25 anos, em que dormiu na rede com o seu amor daquele ano. Debaixo do calor baiano, uma mão direita que também ficava imóvel durante todo o sono, mas que engraçado, pensou, como ainda se lembrava daquele filho da puta que logo se engraçou com uma ruiva um tanto mal vestida.

Memórias. Sempre inconvenientes.

Levantou-se da cama e voltou para aquela realidade, não menos dolorosa. No bilhete, escreveu que ainda sentia o cheiro de todos os bons momentos, mas que noites assim não apagam o maldito sentimento que mistura rancor à saudade. E que a Giovana andava perguntando bastante pelo pai, ele devia ligar mais vezes.

Antes de sair, olhou mais uma vez aquele homenzarrão na cama que já despontava a meia idade. Por mais que a vontade fosse de passar o resto da tarde ali ao seu lado, queria mesmo era mandá-lo à merda. Sente raiva por momentos assim de fraqueza, a culpa é sempre do outro, inventa.

Fechou a porta e chorou. Nunca soube resolver esse problema, se engana sempre, tapa com a mão um sol que teima em nascer todos os dias, se humilha. Precisa mudar um destino que de tanto dar voltas cai no mesmo lugar. Ela sabe.

“Eu sou puta”, soluçou no corredor vazio.

Olhou a agenda e se deu conta de que é sábado, já tem um cliente marcado, deve ir pra casa logo. Ela ainda tem uma surpresa para o dia de hoje. Mas não sabe.

Rosana, 43, prostituta, mãe, amante, infeliz e, claro, profana.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Lulina - Meu príncipe