Site Meter Projeto Modes - Encheu? Joga Fora!: novembro 2008

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Nem sempre déjà vu.



Pegou na minha mão e me chamou para dançar. A música ficou lenta, nossos corpos se juntaram, a melodia envolvendo o momento e nossas bocas.

A gente se envolveu. Jorge Ben, eu e você.
Jorge Ben, eu, você, ela.
Jorge e eu, você e ela.

O amor e o ódio caminham lado a lado, linha tenue, preferi te amar.

Pegou na minha mão e me chamou para dançar. A música ficou lenta, nossos corpos se juntaram, a melodia envolvendo o momento e nossos corações.

A gente se envolveu. Jorge Ben, eu e você.
Jorge Ben, eu, você, aquela.
Jorge e eu, você e aquela.

O amor e o ódio caminham lado a lado, linha tenue, preferi te esquecer.

Pegou na minha mão, não havia espaço pra dançar. Jorge Ben dividiu o palco com Cazuza e eu joguei tudo pro ar.

A gente se envolveu. Eu e você, e mais ninguém.

O destino põe tudo a prova, mas esses momentos nunca me pareceram iguais.


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Perfume


Desde a última vez em que o abraçou, naquela tarde chuvosa do mês de maio, jamais havia encontrado ninguém que usasse aquele perfume. Um aroma forte e único, que ela não saberia dizer essência do quê. Lembrava-se de tê-lo respirado fundo como se pudesse guardá-lo consigo, mas de tê-lo sentido se esvair por não conseguir prender todo aquele ar.

E ela admitia: Nos primeiros dias procurou incansavelmente em cada abraço, em cada frasco, em cada brisa, ainda completamente entorpecida daquele odor envolvente.

Mas ela sabia, toda droga causava, depois da euforia, uma depressão aguda e dolorida. Um mês, dois, três, quarenta novos cheiros em pelo menos vinte novas nucas que beijou em madrugadas regadas a muito álcool. Uma ou duas vezes ela teve a impressão de sentir aquele perfume de novo, mas sabia que disso não passaria: uma impressão tola de quem vê uma cascata num deserto imenso.

Sabia agora, como quem sabe que um dia morrerá, que ele nunca usara nenhum perfume. Era desleixado e ranzinza demais para isso. Aquele cheiro que a deixava tonta, o mesmo que ela buscava incessantemente em todos os abraços, era o cheiro dele, o cheiro da pele dele. E essa fragrância é aquela que ninguém jamais poderia manipular.

E para esquecer, o cheiro do conhaque lhe bastava.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Prostituição de valores


Foram meses de luta e reluta.
De lembranças da sinceridade às avessas
Forjada numa intensidade de risadas e bebidas.

Mas Ana dançava.

Porque sabia que o melhor ainda estava por vir.
E com ele, respeitável público, o começo do espetáculo.

As palavras ficam pesadas enquanto Rosana fala, fala, fala.
E as verdades e mentiras e contradições e falsidades:

ali, limpas, esticadas, prontas para o reuso.
A história que se resume tão friamente em casos paralelos.
Histórias carnais, sujas.
De uma pessoa que precisa provar a si mesma que é capaz daquilo que jamais terá.
Uma farsa de desejo incumbido numa vontade baixa de auto-afirmação.
E sem ela imaginar, todos já sabem.
Da prostituição de todos os valores deixados para trás.
Valores que talvez nunca existiram.
Trocando tudo pelo mais inconseqüente suor.
Por nada.


Luxúria amadora.
Fútil.

Mas enquanto a cortina desce, Ana agradece.

E a Rosana?

domingo, 9 de novembro de 2008

Dolorido Colorido

Ok, esta noite não irei perguntar por que você voltou, por qual motivo -mais uma vez- bate a minha porta com olhos ainda confusos e cheios de um vazio incalculável. A verdade é que nem mesmo você sabe. Se eu perguntasse, mais uma vez, você se sentiria obrigado a responder, e respondendo, como em tantas outras oportunidades, daria uma explicação que nem mesmo você acreditaria.

Não há explicação, compreende? “Eu também não vou perguntar”, pensei ironicamente, depois quinto cigarro.

Aquilo era apenas uma alusão fantástica aos tempos em que só no silêncio construía uma compreensão úmida e intensa. Mas hoje não é. Sei que não, e você também sabe, hoje não atingiremos mais o ponto em que um silêncio basta. Tempo doce em que vinho tinto e respiração ofegante eram suficientes para saciar cada vácuo das perguntas mal formuladas.

Agora, mais do que nunca, será preciso encher o vazio de palavras. Palavras que não te convencerão, não me confortarão e não farão disto algo menos medíocre do que é.

Pergunto, sob efeito da nicotina nos dedos e língua, por qual motivo você se foi, por que, se sabia que a partida culminaria em uma imutável distância, e que nessa distância, a gente, irremediavelmente, perderia ou esqueceria tudo aquilo que construímos juntos.

Você sabe, é na distância que a gente esquece ou se perde. E, como um velho que definha na cama sabendo que está morrendo, a gente esquece sabendo que está esquecendo.

Como diria Caio Fernando de Abreu, “Dolorido, Colorido”.