Site Meter Projeto Modes - Encheu? Joga Fora!: Raízes de uma árvore.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Raízes de uma árvore.

Sentou entre os galhos secos da árvore preferida e abriu seu livro. Pensou com carinho no presente da amiga, que tinha gostado tanto. Abriu na página 53 e se perdeu entre as linhas.

Uma história tão próxima, pensou.
Vagando pelas páginas, já não estava mais atenta aos parágrafos, sentia-se sonolenta. Queria dormir profundamente, mas sua mãos buscavam algo. Pegou o celular. Em um minuto mandou a mensagem.

- Ow, tá fazendo o que?

Acendeu um cigarro com o contraste de céu e mar.

- Nada e vc?
- Nada tbm. Me encontra no Vila?
- Oks.

Deu uma esticada nas pernas. Andava tão distraída nos últimos dias, que até seus causos mal resolvidos haviam se perdido entre as frases com as amigas.

- Ô, e ai, tudo bem?
- Tudo nega e você?
- Bem também.

A profundidade dos passos até o bar era tão forte que a conversa não tinha início. Pensava em como iam trocar os rumos, se os caminhos eram sempre os mesmos.

- Puta, encontrei a Lú esses dias, está diferente né?
- Ah é, nunca mais vi... Diferente por quê?
- Ah, sei lá... Sumiu de uma hora pra outra... Mudou, saca? Não é mais a mesma.
- É assim mesmo. Namoro, trampo, rotina. Vai ser assim com todo mundo.
- Eu não quero.
- Pelo menos a Ná não mudou.
- É mesmo. E ainda bem que tenho certeza que você não vai mudar também.
- Churrascos de galera antiga e nossos filhos amigos.

Sentaram em meio ao barzinho aconchegante. Tocava uma música boa. Era sempre com ritmo a tranqüilidade dos casos e acasos. Discutiam as versões da canção enquanto o suor da cerveja caía pelo copo americano.

- Nossa. Liga pra Carola, a música dela tá tocando.
- Alô, ô, tamo no Vila, vem aqui.
- Beleza. Tô no maior tédio.

Ela sempre vinha com aquela cara de “ai, amo vocês”. Isso fazia bem. As conversas começavam a sair de forma descontrolada. Risadas. Pede mais uma.

- Alô. Oi Ná! Puta, acabou de tocar La Belle De Jour!
- Onde cê tá?
- No Vila com as meninas.
- O neguinho tá dormindo. Vou praí.

Para ela as coisas eram tão mais simples, mesmo não sendo na maioria das vezes.
A leonina era o oposto, acho que por isso a amizade mais velha durava.
“Não quero beber o teu café pequeno”

- Aiii adoro! “Não quero medir a altura do tombo, nem passar agosto esperando setembro”.

Ali se iniciavam as filosofias de boteco. Sábado à noite, o céu estava estrelado àquelas horas. A bandinha tocava para poucos gatos pingados naquele fim de semana praiano de um julho gelado. Mas estavam ali, relembrando, fazendo planos, falando dos sumidos e lembrando dos moles aparecidos.

- Lembra quando fugimos do vô? Fedô se estivesse junto teria curtido.
- Claro, tínhamos 15 ou 16 e muita vida pela frente. Época boa viu.
- Eu teria tropeçado certeza.
- Nossa, eu também teria tropeçado certeza.
- Você é uma idiota.
- Oi lindas, vocês são de onde?
(ai, quem é esse bebasso?)

Depois de umas frases mal trocadas, se viram livres.
Duas, três da manhã.
Com passos miúdos voltavam pra casa de praia com míseros centavos no bolso. As ruas mal iluminadas davam a sensação de caminharem a esmo, só com elas mesmo.
Algumas risadas noturnas no silêncio do quarto e uma a uma, foram pegando no sono.
Sonharam com momentos distantes, formaturas, histórias contadas, choros em conjunto.
Aonde suas vidas iam parar?

- Gente, tão acordadas?
- Aham...
- Não...
- Vamos pra praia?
- A Mari tá vindo, pegando estrada. Fala pra ela comprar xampu que acabou.
- Alô, Maricota, compra xampu?
- Já comprei né, sabia que você ia esquecer.



Especiais porque sabem que conhecer bem é possível.
Que confiança existe.
E que o presente, será pra sempre um futuro amigo.



...

4 comentários:

Fernanda Doniani disse...

Raízes de uma árvore

sempre

Marianna Palma disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marianna Palma disse...

"Sabia que você ia esquecer!!!" -
E eu estarei sempre aqui pra te lembrar!!!!
Sempre, sempre...

Amo-lhe

Carol disse...

Chorei.

"Ela sempre vinha com aquela cara de “ai, amo vocês”.

E como amo viu...