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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Dos muitos socos que não dei

Havia uma menina irritante na minha sala de aula do pré-primário. Ela era mais alta do que todas as outras meninas, mais desajeitada e , se não me falha a memória infantil, meio vesga também.

Ela, cujo nome eu cordialmente esqueci, criou o péssimo habito de atormentar todos os outros alunos da classe. Era encrenqueira, falsa, gritava e mentia com uma qualidade quase adulta.

Por alguma razão espiritual, genética ou altamente misteriosa, eu nunca revidei as ofensas da pequena víbora. Nunca chorei também, fato que me transformou num alvo tentador para a miniatura de vilã, que colocava bichos na minha lancheira, criava casos, mentiras e alegava que eu havia batido nela. E eu? Bem, por alguma razão espiritual, genética ou altamente misteriosa, eu não me importava.

Alguns anos depois, já devidamente alfabetizada e sem o contato diário com a mini-mocréia, o destino teimou em nos juntar novamente. Ela, que também já estava alfabetizada e, consequentemente mais maléfica, voltou a integrar minha turma na terceira série do ensino fundamental. Mas se o desejo em ver sangue da filha-da-puta mirim cresceu, o meu auto-controle não deixou por menos, e eu era boa nisso.

Resultado: a mini malfeitora desistiu de me encher, e resolveu pegar no pé um menino que usava botas ortopédicas, óculos de grau e bombinha para asma. Todos os dias ela destilava suas ofensas, provocações e humilhações à pequena vítima.

Até o dia em que eu surpreendi a nossa vilã em mininatura arrastando os óculos do garoto no asfalto da rua. Com as mãos, ela percorria boa parte do chão a da escola, enquanto olhava para ele com um prazer indescritível.

Por alguma razão espiritual, genética ou altamente misteriosa meu primeiro ímpeto foi pegar a garota pelos cabelos, e percorrer com o rosto dela o mesmo caminho que os óculos haviam passado.

Em um minuto, a diretora do colégio apareceu, chamou meus pais, me suspendeu por uma semana das aulas, me encaminhou a um psicólogo e me obrigou a freqüentar estúpidas aulas de poesia infantil.

Na oitava sessão com o psicólogo, ou oitavo encontro com o grupo estúpido de poesia, eu conclui que, se eu tivesse dado um grande e gostoso soco no meio do estomago da pequena escrota quando estávamos no prezinho, provavelmente ela aprenderia a lição, não incomodaria mais ninguém, eu não iria precisar esfolar o rosto da garota no asfalto e, consequentemente, não seria obrigada a freqüentar um psicólogo anos mais tarde.

O problema é que por alguma razão espiritual, genética ou altamente misteriosa eu continuo segurando o primeiro soco, sem pensar que isso pode resultar em ações muito mais horríveis quatro anos mais tarde.

5 comentários:

Anônimo disse...

Acho que todas somos um pouco assim. Belissimo texto.

Fernanda Doniani disse...

eu tbm sempre perco a chance do primeiro soco.

adorei teu texto.

Luciano Costa disse...

as brigas que ganhei
nenhum troféu
como lembrança
pra casa eu levei

as brigas que perdi
essas sim
eu nunca esqueci

FU, Pato.




pensei que seria algo nessa linha, mas não. a paula não é da P A S.

Nina disse...

Ahhhhhhh segurar soco só me faz mal viu!!!! Eu fico remoendo e tal.
Acho que são as tais razões espirituais, genéticas ou altamente misteriosas, hehehehe, que me fizeram estourada demais da conta.

Parabéns pelo teu blog. Gostei!

Bj

Anônimo disse...

sem pensar que isso pode resultar em ações muito mais horríveis quatro anos mais tarde. .....quero saber???? E ai?
Adorei o seu texto....ri muito.
Sempre tem uma pessoa escrota...

Um soco no estômago seria pouco, gostei da cara dela no asfalto...deve ter ficado marcas. E toda vez que ela olhar no espelho e ver as marcas, ai se lembrar....achei pouco! hahahah

Parabéns