Amigas, queridas, ouçam o que eu tenho a dizer: é preciso perder um amor. Ok, serve qualquer um. Do tipo insignificante, desses que a gente esconde dentro do bolso da calça. Ou gigante, desses que enchem tanto que transbordam. O importante é simplesmente, perder um amor. (para criar uma casquinha, virar coragem, e resultar em poesia)
Eu sou do tipo que perde o amor no vão do sofá, no meio da sala, ou esqueço dentro do carro, às vezes o meu amor se perde na rua, em plena paulista, sob um sol de 43° graus. E nem ligo se o amor foi adquirido em liquidação, prestação, ou se custou mais de um milhão. Porque todo mundo vai perder um amor de graça, sem cobrar absolutamente nada.
Nos amores à vela, é preciso olhar o mar como quem vai se afundar, acostumar-se com a maresia e o enjôo. É preciso jogar uma rosa (ou catuaba?) para Iemanjá (ou santa Naza?) e esperar. Tai um amor velado.
No labirinto dos dias, é necessário perder um amor. Errar o caminho, bater a cara no vidro e quebrar o mindinho, mas se o amor perdido ainda te deixar fora de órbita, vire uma astronauta, reconstrua satélites e troque a bateria das estrelas apagadas. Descubra novos planetas ou mude de signo. Porque o certo é deixar escapar um amor para entender as fases secretas da lua.
Só que preciso mesmo é perder um amor para merecer a Bossa Nova, o banquinho e o violão. É preciso perder um amor para entender o sorriso e a flor. É preciso ir ao cinema (mas cuidado! No escuro é ainda mais fácil perder um amor), escrever um romance e tomar conhaque. É como é deliciosamente preciso perder um amor no meio de um porre.
É preciso perder um amor em uma curva da estrada - e voltar pra casa dirigindo com cuidado. Não, minhas amigas, não chorem o amor que já saiu correndo, arrumou as malas e voou.. O amor é assim mesmo, cria asas e “Hasta La Vista, Baby”. E nem adianta procurar nos Achados e Perdidos do Metrô o amor esquecido às seis da tarde. Perdeu, perdeu. Entende a poesia?
Agora, Pense comigo, perder um amor é como cortar o cabelo. Um dia, ele cresce de novo - e a gente sempre fica melhor com um corte mais curto, né? Além do mais, é preciso perder um amor para que alguém encontre. Esse é o ciclo.
É preciso perder um amor para se sentir pior, melhor, dividido e inteiro. Tudo isso ao mesmo tempo.
E sem querer abusar do Fernando Pessoa, “Navegar é preciso, viver, não é preciso”.
Eta, precisão!