segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Perfume
Desde a última vez em que o abraçou, naquela tarde chuvosa do mês de maio, jamais havia encontrado ninguém que usasse aquele perfume. Um aroma forte e único, que ela não saberia dizer essência do quê. Lembrava-se de tê-lo respirado fundo como se pudesse guardá-lo consigo, mas de tê-lo sentido se esvair por não conseguir prender todo aquele ar.
E ela admitia: Nos primeiros dias procurou incansavelmente em cada abraço, em cada frasco, em cada brisa, ainda completamente entorpecida daquele odor envolvente.
Mas ela sabia, toda droga causava, depois da euforia, uma depressão aguda e dolorida. Um mês, dois, três, quarenta novos cheiros em pelo menos vinte novas nucas que beijou em madrugadas regadas a muito álcool. Uma ou duas vezes ela teve a impressão de sentir aquele perfume de novo, mas sabia que disso não passaria: uma impressão tola de quem vê uma cascata num deserto imenso.
Sabia agora, como quem sabe que um dia morrerá, que ele nunca usara nenhum perfume. Era desleixado e ranzinza demais para isso. Aquele cheiro que a deixava tonta, o mesmo que ela buscava incessantemente em todos os abraços, era o cheiro dele, o cheiro da pele dele. E essa fragrância é aquela que ninguém jamais poderia manipular.
E para esquecer, o cheiro do conhaque lhe bastava.
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Luiza
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5 comentários:
uma busca que é de todos, mesmo daqueles que ainda não sentiram o seu perfume definitivo.
Essa coisa de cheiro é uma das poucas coisas que ainda nos mostram (mesmo que escondamos com roupas e chapinha) que somos apenas animais.
Essa coisa de cheiro é uma das poucas coisas que ainda nos mostram (mesmo que (tentamos)esconder com roupas e chapinha) que somos apenas animais. [2]
Sentir o cheiro de alguém empregnado em vc quando se chega em casa... eu gosto disso... rs
"lança menina, lança todo este perfume /desbaratina não dá pra ficar imune /ao seu amor que tem cheiro de coisa maluca..."
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