O desânimo veio a cavalo com a chuva percebida através da janela antiga, de madeira com tinta branca e vidro no recorte quadrado. O fim da tarde anuncia a chegada do fim do expediente, que – ao mesmo tempo – parece nunca chegar.
quarta-feira, 29 de julho de 2015
Mesmice.
O desânimo veio a cavalo com a chuva percebida através da janela antiga, de madeira com tinta branca e vidro no recorte quadrado. O fim da tarde anuncia a chegada do fim do expediente, que – ao mesmo tempo – parece nunca chegar.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Cine (de amor) Privê
Cena 1
Seu músculo tocando de leve na perna quente que conhecia de olhos fechados.
e que tremia toda vez, quando sentia prazer.
Não era como uma falta qualquer, era uma necessidade incalculável... por uma penetração absolutamente...
Profunda.
***
Chegou tarde do escritório naquela quarta-feira tediosa.
A cabeça pesava enquanto o olhar analisava o quarto e buscava alguma urgência, mesmo sem existir.
Entrou no chuveiro e se aliviou pensando em tudo mais uma vez. Foi passando a toalha devagar, cheia de vontades enquanto andava até a cama.
Desistiu de assistir qualquer filme.
Sabia que ia dormir e sonhar com uma cena de amor (pornô), cheia de detalhes, igual aquelas contadas também nos seus livros.
Acho que acabou abrindo um sorriso no canto da boca durante o sono.
Logo o filme teria sua estréia real.
Mesmo sem sucesso de bilheteria.
domingo, 25 de abril de 2010
Mudanças - Capítulo IV
Memórias. Sempre inconvenientes.
Levantou-se da cama e voltou para aquela realidade, não menos dolorosa. No bilhete, escreveu que ainda sentia o cheiro de todos os bons momentos, mas que noites assim não apagam o maldito sentimento que mistura rancor à saudade. E que a Giovana andava perguntando bastante pelo pai, ele devia ligar mais vezes.
Antes de sair, olhou mais uma vez aquele homenzarrão na cama que já despontava a meia idade. Por mais que a vontade fosse de passar o resto da tarde ali ao seu lado, queria mesmo era mandá-lo à merda. Sente raiva por momentos assim de fraqueza, a culpa é sempre do outro, inventa.
Fechou a porta e chorou. Nunca soube resolver esse problema, se engana sempre, tapa com a mão um sol que teima em nascer todos os dias, se humilha. Precisa mudar um destino que de tanto dar voltas cai no mesmo lugar. Ela sabe.
“Eu sou puta”, soluçou no corredor vazio.
Olhou a agenda e se deu conta de que é sábado, já tem um cliente marcado, deve ir pra casa logo. Ela ainda tem uma surpresa para o dia de hoje. Mas não sabe.
Rosana, 43, prostituta, mãe, amante, infeliz e, claro, profana.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
segunda-feira, 29 de março de 2010
Falei sobre você com o espelho, enquanto o lápis deixava um risco preto nos olhos castanhos. Lembrei do sorriso que apareceu igualzinho, como se eu o tivesse visto em exatos cinco minutos. Escutei sua voz no meu ouvido esquerdo e senti o calor da sua mão na minha cintura como se você estivesse ali, naquele instante.
Peguei o rímel quase no fim e aumentei os cílios que já são longos. Por pura vaidade. O cabelo estava de bom humor, as unhas feitas. A ausência do batom continuava, apenas um pouco de gloss que sairia nos próximos dez minutos. Enquanto passava senti seu beijo pelo ar quente que invadiu meus lábios.
Encaixei o pendrive no som para passar o tempo, a primeira faixa da pasta era aquela. O sonho com os olhos abertos era tão real que eu podia ouvir sua voz cantando com empolgação o refrão que tanto se repetia. Eu acompanhando como sempre, eu e você, você e eu e assim sucessivamente.
Por fim, espirrei o perfume de um lado do pescoço. O lado oposto sentiu seu nariz encostando devagar na pele enquanto eu sentia a sua. Quente, sem perfume. Só com o seu cheiro que ainda me pertencia. Terminei. Sentei. Ainda fiquei alguns minutos quieta, pensando em tudo que havia acabado de acontecer comigo. Em sonho.
...
Escutei a porta do carro bater lá embaixo.
Sem nem hesitar, meu rosto se ergueu num sorriso cor de saudade.
E mesmo depois de tanto tempo, eu consegui.
Meu mais perfeito dejavú.
...
terça-feira, 23 de março de 2010
Passarinho verde
Só que para mim não.
Não.
E não!
Vá te catar. (por gentileza?)
quinta-feira, 11 de março de 2010
Castanho médio
Lembro que quando adentrei o quarto do hospital, meus olhos ignoraram todo aquele cenário branco-dolorido, as sondas e soros e fixaram-se no que, pra mim, foi impossível não se hipnotizar: o seu olhar. Era um olhar diferente, penetrante, que me fitava por minutos e que me forçava naturalmente a se mostrar ali presente, naquele momento, mesmo que fosse para segurar sua mão e tentar te distrair com casos rotineiros.
Engraçado que esse olhar andou comigo por muito tempo, em minhas memórias. Uma outra vez na praia, em meio a uma conversa banal - acho até que nem se lembra -, você parou por um instante, se voltou pra mim e arriscou um olhar que me lembrou aquele lá. Foi rápido, mas o suficiente para eu guardá-lo também na minha coleção de olhares.
E daí que anos depois te vi em um bar, daqueles com roda de samba. Nos intervalos dos meus chorinhos preferidos, me permitia escapar para observar você, mesmo que de longe. Através do meu campo de visão, contornei todo o seu rosto, esperei os momentos em que você se virava para falar com alguém só para não perder o momento de flagrar um olhar. Mas não houve nem sinal. Tenho certeza que aquele seu olhar continua ali, pronto para ser exposto em ocasiões escolhidas a dedo. Mas, lamento, eu nunca mais vou encontrá-lo.