O desânimo veio a cavalo com a chuva percebida através da janela antiga, de madeira com tinta branca e vidro no recorte quadrado. O fim da tarde anuncia a chegada do fim do expediente, que – ao mesmo tempo – parece nunca chegar.
Transporte público com chuva é tamanho imbróglio,
principalmente quando se tem sono e se sonha com a cama de casal comprada a
pouco, o edredon de cores vivas – presente das amigas – e o som da Adriana
Calcanhoto a embalar a noite, tão esperada. Segunda-feira é dia de preguiça.
Vontade zero de sair do lugar, vontade mil pelo próximo fim de semana.
Como sair daqui a minutos? Guarda-chuva a postos; todo
cuidado é pouco com os carros velozes que cismas em acelerar o passo junto às
poças de água coladas ao meio fio. Distância... até o sinal ficar igual maça
madura e dar abertura para a corrida de todo dia.
Até o outro lado da rua.
Passa um, dois, três. No quarto ônibus entro e busco um
lugar, o preferencial está vago. A moleza é tanta que vou direto nele, atenta
nos possíveis passageiros com maior dificuldade do que eu. A chuva empaca o
trânsito, mole, parece não ter pressa. Essa mesma que corre nas minhas veias e
me deixa impaciente. Quatro, cinco, seis pontos depois, desço. Vento que puxa o
guarda-chuva, me sinto ranzinza, esbravejo, aperto o passo sentido metrô.
Multidão.
Abro caminho e paro onde uma porta vai abrir. Estação
segunda de um lado, sentido estação penúltima do outro. Entro, encontro um
lugar, sento. Meia hora, uma hora. E nada da minhoca de metal sair do lugar.
Pessoas vidradas no celular, jogos, mensagens, ligações, brigas, palavras de
amor, discussões sobre a rodada do brasileirão.
Mesmice.
Terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira – Todos
os dias iguais.
Mas a segunda, só nela, a mesmice é evidente. Parece fazer
parar a gente.